Olá caros leitores. Novamente estamos aqui para tratar de uma matéria produtiva, sobre a qual falamos anteriormente, a releitura.
Em propósito proveitoso de estarmos trabalhando de maneira disciplinar este tema, a trouxemos para a prática, entregando o eixo central de nossos trabalhos deste blog, que é a relação de amor quase sexual entre arte e ciência, realizamos, como um grupo de colegas já aqui o fez, releituras de obras que tratam deste romance. Uma delas é a mesma imagem utilizada pelo grupo citado: "An Experiment on a Bird in the Air Pump" (1768), do artista inglês Joseph Wright of Derby. A outra foi "The ambassadors" (1553) de Hans Holbein, o Jovem, pintor alemão.
Nestas (re)apresentações buscamos retrabalhar a forma através de uma linguagem alternativa à pintura, a fotografia. Realizamos as composições durante um nossos encontro letivo semanal da disciplina de Arte-ciência: diálogos interdisciplinares I, no curso de Artes visuais, na Universidade Estadual de Maringá, quando dispúnhamos de uma série de instrumentos científicos emprestados pelo professor Marcos César Danhoni Neves, o Velho, astrofísico brasileiro. Discutimos sobre tais instrumentos, pois eles fariam (importante) parte de nossa composição. Nas obras de arte que tivemos como referências, alguns destes mesmos objetos científicos aparecem na representação pictórica, já evidenciando o interesse dos artistas pela famigerada relação. Reconstruindo as cenas, pensamos que podemos (re)trabalhar o diálogo com as matérias tomadas pelos artistas citados, trazendo para o imaginário da atualidade o que havia sido pensado por eles neste não-distante-passado.
Sendo assim, nossas releituras têm por objeto o diálogo interdisciplinar entre arte e ciência, e buscamos trazer para elas, um pouco da intencionalidade de Wright e Holbein.
Passemos a uma breve descrição de algumas concepções e de alguns dos objetos utilizados:
Utilizamos na releitura da obra "An Experiment on a Bird in the Air Pump", uma lente de fresnel e uma esfera de plasma. As duas ferramentas e o personagem do cientista foram utilizadas para dizer outro algo sobre o algo representado na pintura apenas pelo cientista e a bomba de ar. Na obra original, o cientista olha diretamente e entusiasmadamente para o espectador, no ápice de sua performance de poder sobre a vida do pássaro que se encontra agonizante dentro da capsula de vidro, e da confirmação de uma teoria de que onde existe vida não existe o nada, ou onde o vácuo esta presente não se pode haver algo, apenas o nada. A diferença da releitura para a obra lida por ela é que ao invés de o cientista segurar a bomba de ar e quase que como perguntar ao expectador o que fazer, deixar que o animal viva, ou provar até as últimas consequências que sua teoria é verídica, na releitura o cientista não da enfase no expectador mas sim na esfera de plasma, que é, na composição o que representa o vácuo, enquanto na outra extremidade segurando pela mão a lente de fresnel a cacatua representada pela união de duas mãos foge do que seria cápsula de vidro, lembrada pela circunferência moldada no material que a lente se compõe A lente de Fresnel foi criada para o uso em faróis marítimos, possuindo várias medidas focais, pelo francês Augustin Jean-Fresnel com desenho que possibilita a construção de lentes de grande abertura e curta distância focal sem o peso e volume do material que seriam necessários a uma lente convencional e também mais finas permitindo maior passagem de luz através dela, e foi, posteriormente, tomada por vários outros objetos cotidianos desde faróis de carros, semáforos até câmeras de captura de imagem. A esfera de plasma foi utilizada nas duas releituras, ela é um aparelho que contém uma bola de vidro com ar a baixa pressão e uma esfera metálica no centro ligada a uma alta tensão alternada, de alta frequência e alta tensão. Formando um campo elétrico dentro da bola acelerando os elétrons livres que colidem com os átomos de gás e provocam a ionização, liberando mais elétrons, estes também serão acelerados, ocorrendo uma descarga elétrica no gás, a cor aparece por causa do gás que está dentro da bola de vidro. O foco representado nesse recorte da releitura não é a vida do pássaro mas sim o esplendor do experimento acima de tudo.
Em ambas as releituras, dentre
os objetos dispostos sobre a mesa, estava uma bússola. A bússola é
um dos dispositivos de maior relevância surgidos na história, tendo
grande importância para o desenvolvimento das civilizações no
século XVI, com o período das grandes navegações. Este é um
objeto utilizado para orientação geográfica, pois fornece uma
direção de referência por meio de um ponteiro (chamado de agulha)
magnetizado que, atraído pelo pólo sul magnético do planeta (em
razão da grande quantidade de ferro derretido no interior da Terra,
que funciona como um imã e atrai a agulha magnetizada),
indica aproximadamente o Norte geográfico. Estudiosos
acreditam que os chineses foram os primeiros a explorar este fenômeno
da magnetização. A bússola atual é uma caixinha circular (chamada
de cápsula) de material transparente, onde a agulha encontra-se
equilibrada sobre um pino e tem livre movimento horizontal,
permitindo que dê voltas de 360 graus, e o interior da cápsula está
cheio de um líquido viscoso, destinado a diminuir a "tremedeira"
da agulha. A presença de certos minerais no solo podem alterar a
indicação da agulha magnetizada, que sofrerá influência desses
objetos, não oferecendo uma orientação precisa – esse fenômeno
é chamado de declinação magnética.
No período em que é produzida a obra de Holbein, se passa uma grande revolução científica: o rompimento da concepção ptolomaica de mundo. A teoria de Ptolomeu era baseada num modelo universal em que a Terra era o centro dos cosmos, circundado por oito esferas celestes: a Lua, o Sol, as estrelas e outros planetas. (Sol e Lua) eram chamados de planetas, estes eram esferas giratórias de cristal imaginárias. De acordo com a teoria de Ptolomeu, cada planeta tem movimento epiciclo e se movem ao redor do Terra que é estacionária e se encontra no centro do Universo. Os corpos não se movem em órbitas circulares, em determinados pontos parece deter-se ou inverter seu movimento e finalmente se mover na direção primitiva. Esses movimentos são conhecidos como retrógrado devido aos movimentos da Terra e de outros planetas ter velocidades diferentes em órbitas concêntricas e circulares. Para explicar o fenômeno, Ptolomeu elaborou um sistema em que os planetas estavam fixados sobre as esferas concêntricas de cristal, presididas pela esfera das estrelas, todas girando em velocidades diferentes. O movimento retrógrado e as paradas dos planetas segundo Ptolomeu, tem como causa, o movimento epíciclo: cada um deles girava em um círculo (os epiciclos) sobre um esfera menor, cujo centro , se situava sobre um esfera maior. Assim enchendo o céu de rodas- gigantes. Esta concepção dá lugar ao entendimento galileano de cosmos, a partir da publicação por Galileu, de uma série de tratados sobre astronomia.
Um planisfério é uma carta ou mapa que representa em um mesmo plano os dois hemisférios terrestres. Para se vê a aparência do céu visível em um determinado lugar depende da hora do dia, da época do ano e da latitude do lugar. O planisfério combina em um único dispositivo as cartas celestes de um ano inteiro para uma determinada latitude. Coberto por uma máscara que deixa à mostra apenas o céu visível de um determinado lugar, hora e época do ano. Girando a cobertura, pode-se ver como varia a aparência do céu visível nesse lugar com o passar do tempo. Os planisférios mostram as estrelas mais brilhantes do céu, a lua, o Sol excluindo os planetas devido o rápido deslocamento em relação às estrelas, por isso para ver a aparência do céu noturno depende da hora do dia e da data. Devido ao movimento de rotação da Terra os astros que são visíveis em um determinado lugar mudam de posição, à medida que a terra gira em torno do sol muda a posição do sol entre as estrelas e, consequentemente, muda a parte do céu que está acima do horizonte durante a noite, ao passo que também não pode ser usado em qualquer latitude, pois o eixo de rotação da terra tem uma orientação fixa, quando gira em torno desse eixo, de oeste para leste, as estrelas se movem, de leste para oeste, em trajetórias paralelas ao equador. O tamanho das trajetórias diurnas das estrelas, assim como sua orientação em relação ao horizonte, depende da posição da estrela no céu e da latitude do observador na Terra. O planisfério é um dos objetos presentes na obra, Os embaixadores do pintor Hans Holbein, na parte superior do móvel que fazem referência à circunavegação e às grandes descobertas de novos continentes. Na releitura é uma versão atual em papel de um instrumento muito usado no passado, que ainda pode ser usado hoje para orientação cartográfica.
O relógio solar, que também pode ser chamado de gnômon, corresponde e um método ou procedimento para medir a sucessão das horas ou do tempo por meio da visualização do modo como a luz solar incide na terra em diferentes posições, ou seja, quando a sombra estiver bem longa é o amanhecer; ao meio-dia, se apresenta em seu tamanho mínimo, voltando-se a alongar-se ao entardecer é justamente essa variação que fornece as horas.O relógio solar deve ser alinhado com o eixo de rotação da Terra, para que produza uma medição precisa da hora correta. Na maioria dos estilos de relógio, ele precisa ser apontado em direção do norte verdadeiro (ao invés do magnético), ou seja, o ângulo horizontal precisa ser igual à latitude geográfica da posição em que está localizado o relógio de Sol. Os primeiros registros de incidência relógio solar foram através dos povos babilônicos e egípcios; este relógio também foi muito prestigiado entre os romanos, pelos árabes, depois para Europa. Onde o francês Jean Jacques Sedillot publica em 1854 o Traité des instruments astronomiques árabes, baseado nos manuscritos de Al-Marrakushi, datadas de 1280, onde foram descritos seis deferentes tipos de relógios e sol portáteis e treze fixos, entre horizontais, verticais diretos e declinados, cilíndricos e hemisféricos. Apesar de ser uma tecnologia antiga, o relógio de sol é utilizado nos dias de hoje em praias e áreas abertas.
De acordo com Sotto et al. (2008), anamorfose corresponde à representação de uma figura que, quando observada frontalmente, parece distorcida ou mesmo irreconhecível, tornando-se legível quando vista de um determinado ângulo. Na etimologia, anamorphosis, em grego, corresponde à ‘formado novamente’. Pensar a origem da técnica da anamorfose incute pensar os construtos expressivos nas artes do Renascimento, mais precisamente, na simbiose artístico/científica que culminou na representação da profundidade em suporte bidimensional, ou seja, a perspectiva. Sem a consciência da representação em perspectiva, seria impossível a realização das traquinagens ópticas por meio das anamorfoses, uma cúpula de mentira no topo de uma igreja, a lua sob a santa, vales com cachoeiras em plena Wall Street, slogans “em relevo” no campo de futebol. Tais jogatinas do olhar, foram produzidas com cunho intencional/subjetivo que extrapola a vontade de representação do real, supera a vontade de realidade e perfeccionismo. Estão ali como assinaturas. É o que se diz sobre a obra de Holbein (1533), “Os Embaixadores”, o crânio anamorfizado no chão entre os personagens, carrega um incômodo ao olhar, uma mancha sobre uma representação tão realística. Para alguns a representação do crânio no quadro é a assinatura de Holbein, já que que seu nome em alemão significa “osso vazio”. Segundo Sotto et al. (2008) o quadro de Holbein foi posicionado no topo da escada de um castelo , somente enquanto subia-se a escada tinha-se a visão de um crânio, assim que se chegava ao topo a caveira não era vista. O que carrega a intencionalidade do artista ainda é a perspectiva, pois, no esforço para enxergar a realidade representativa do crânio, o que se distorce é o quadro em sua totalidade. Para a releitura “Os abaixadores”, realizada pela turma de Artes Visuais/UEM, o objeto responsável pela representação do crânio de Holbein foi um tablet, onde se utilizou um programa que faz anamorfoses. A técnica da anamorfose não é fácil, exige bons conhecimentos tem perspectiva, desenho, geometria, raciocínio espacial. Mas os avanços computacionais permitem a disseminação da técnica, tanto que simplifica ou automatiza sua aplicação. Na atualidade, a consciência social das anamorfoses está tão difundida que a inquietação em relação às ‘manchas’ nas imagens do real já não existe, no máximo estimulam o riso, já a tentativa de encontrar a realidade do entorno anamorfizado em função de um único ângulo de observação se mantêm como vício da humanidade.
Incorporados à composição estão, ainda, livros de astronomia, os quais nos permitem a compreensão do funcionamento de outros elementos presentes na releitura, bem como na obra original de Holbein, na qual os livros encontram-se abertos, com seu conteúdo à vista, oferecendo o pensamento ao observador; o conhecimento astronômico presente nos livros se dá de suma importância em vista da localização do tempo e do espaço. Alguns livros presentes na releitura continham visualização com óculo 3D, que nos permitia a noção de profundidade de imagens astronômicas tiradas via satélite, a tecnologia 3D possibilita uma ilusão que gera a noção tátil da imagem observada, o que amplia a experiência tridimensional de forma imersiva.
Os abaixadores (2013)
Experimento de uma bomba de energia (2013)
Na releitura "Os abaixadores", brincando com palavras, não nos esquecemos dos instrumentos científicos, da "anamorfose", representada por uma distorção gerada por um aplicativo em um tablet, e nem do Cristo crucificado coberto por cortinas.
Em "Experimento de uma bomba de energia", buscamos trabalhar a "teatralidade" de maneira um pouco mais fiel à obra, alterando a bomba de ar por um objeto que também é composto de vácuo, a esfera de plasma. O senhor do meio na obra original, provavelmente o executor do experimento foi representado pelo André, mais ao lado outro senhor apontando e parecendo tentar acalmar a menina, talvez podendo ser o pai dela, foi representado por Pedro, a menina com os olhos cobertos por sua mão na original e na releitura coberta com as mãos é Angélica e a criança no centro mais a direita na obra de Derby, e na releitura mais no centro esquerdo onde a luz aparece com mais intensidade é Fabiane. O casal mais ao lado esquerdo olhando um para o outro, na releitura são Maria e Antônio, o homem pensativo focado no experimento na figura original, no nossa representação é Thereza, o menino ao fundo abrindo a cortina foi representado por Felipe. Voltando a esquerda temos mais dois senhores sentados a frente do casal, o que esta mais a frente no primeiro plano foi representado por Ana, e o que se encontra mais atras, Josiane; e na releitura da obra, adicionamos mais um personagem Érica, entre Pedro e Thereza.
REFERÊNCIAS
BRASILESCOLA. Bússola. Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/bussola.htm. Acesso em: 24/04/2013.
______. Relógio de sol. Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/relogio-sol.htm. Acesso em: 24/04/2013.
CARTOGRAFIA. Bússola. Disponível em: http://www.cartografia.eng.br/artigos/bussola.php. Acesso em: 24/04/2013.
USP, Estação ciência. Exposição. Disponível em: http://www.eciencia.usp.br/exposicao/eletro.html. Acesso em: 24/04/2013.
FISICA-GRAVITACAO. As Esferas Celestes. Disponível em: http://fisica-gravitacao.blogspot.com.br/2010/01/as-esferas-celestes.html. Acesso em: 24/04/2013.
SOTTO et. al. Anamorfoses: origens e atualidades. Congresso Brasileiro de Pesquisa em Design. São Paulo: 2008. Disponível em: http://www.modavestuario.com/356anamorfoseorigenseatualidades.pdf. Acesso em: 24/04/2013.
UFRGS, Instituto de Física. Planisfério. Desponivel em: http://www.if.ufrgs.br/~fatima/planisferio/Planisfe.htm. Acesso em: 24/04/2013.
WIKIPEDIA. Lente de Fresnel. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lente_de_Fresnel. Acesso em: 24/04/2013.
Obras referência:
Hans Holbein, o Jovem.
The ambassadors, Jean de Dinteville and Georges de Selve. 1553.
National Gallery, Londres, Inglaterra.
Joseph Wright of Derby.
An Experiment on a Bird in the Air Pump. 1768.
National Gallery, Londres, Inglaterra.
Outras fontes:
http://relogiosdesol.blogspot.com.br/2008/11/um-pouco-de-histria-sculo-xix-at-os.html
http://profalexandregangorra.blogspot.com.br/2008/03/o-relgio-solar.html
http://www.infoescola.com/curiosidades/relogio-de-sol/
http://www.relogiosol.com/historia.php.htm
http://www.feiradeciencias.com.br/sala03/03_06.asp
AUTORES: Ana Paula Umbelino, Beatriz Mendes, D.X. (André Onishi), Antônio Almeida Junior, Maria Giulia Pinel, Josiane Bertolleti, Pedro Cavallari, Thereza Aguitoni, Felipe Franco Tomazella, Aletheia Alves da Silva, Ingrid Tamanini, Érica Egea Goldolfo, Angélica Nardi e Fabiane Kitagawa.