Disciplina: Arte e Ciência: Diálogos Interdisciplinares II;
Turma: 01 Sala K; 3ª Ano Artes Visuais - UEM;
Título: Tudo vira;
Técnica: Nanquim sobre papel e fezes de cavalo;
Tamanho: 73cm X 34 cm.
Fig. 1.
Fig. 2.
Fig. 3.
Denominada "TUDO VIRA", a obra é composta por 3 ilustrações que remetem diretamente a personagens do filme '2001'. A primeira ilustração (Fig. 1) representa o hominídeo apresentado no segmento inicial do filme em sua icônica cena onde descobre que pode utilizar o osso como ferramenta para angariar poder, disseminando, com isso, a dominação e a violência.
A segunda ilustração (Fig. 2) retrata o astronauta. Mas não só o astronauta. Retrata o homem moderno como um todo. O homem que quer entender o que há "além", nos confins de um universo minimamente explorado. Um ser insignificante que, ainda assim, se entende como superior a outros seres. Um ser que dia e noite se desdobra para entender os arredores do gigantesco universo que o rodeia, para entender o "fora". E tanto quanto, para entender o "dentro". Uma humanidade própria ainda também pouco explorada e decifrada. Uma insignificância de si próprio.
A terceira ilustração (Fig. 3) traz a figura do monólito. Enigmaticamente aparecido ao longo de todo o filme, o monólito representa, em minha obra, um ser superior. Em concordância com o filme "2010 - O ano em que faremos contato" (1984), um ser de elevação, afastado das limitações do ser humano. Representa um ideal, um auge.
As três ilustrações estão propositalmente rodeadas por um material orgânico: fezes. A ideia de usar tal material tão incomum veio principalmente da canção "Tudo Vira Bosta, composta por Moacyr Franco e interpretada por Rita Lee.
"O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
O prometido e não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta
O vinho branco, a cachaça, o chope escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta
Filé minhão, champinhão, Don Perrinhão
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta
O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondue, o mocotó
Pavaroti, Xororó
Minha eguinha pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta
A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
Prostituta e deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu 'tô cansado
Tudo vira bosta
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta
[...]"
TUDO vira bosta. Compositor: Moacyr Franco. Intérprete: Rita Lee. [S. l.]: Som Livre, 2003.
A conclusão a que chego a partir de minha obra é de que: apesar de toda a grande filosofia humana de desbravamento, de conquista, de poderio, tudo ao fim cai ao mesmo relento. O que o monólito representa, toda a evolução a qual não temos acesso, todo o mistério ao entorno do que há no "fora", pode ser que não se suprima a fim tão mísero. Mas as cabeças que pensam sobre isso hoje, tal qual a minha, a de meus colegas aqui presentes, a do professor, todas estas sim, virarão escória. Todas estas obras, todos estes materiais, todas essas aulas... tudo virará bosta. Não que já não sejam. Se o monólito assistisse a tudo isto, ele veria uma aula ou um quadro cheio de fezes?