Aléxia Amanda Doro
Beatriz Marques Nolli
Betriz Naomi Ichiba
Fernanda Ayumi Sakuma
Jacqueline Amadio de Abreu
Marcio Soares Pili
Matheus Gonçalves Gorni
Matheus Fiaux
Blade Runner 1982
O
“cult movie” da ficção cientifica Blade Runne trouxe uma chocante visão do
futuro, o filme se passa por volta dos anos 2000 e o planeta terra está em
total decadência , a engenharia genética se tornou uma das maiores indústria de
replicantes ( robôs com uma inteligência e força extraordinária), que são tão
parecidos com os humanos que e praticamente indistinguível, como vimos no filme
uma cena o qual o protagonista Rick Deckard( interpretado por Harrison Ford)
matou uma replicante e ela sangrava como um ser humano sangraria, como também
animais replicados sendo vendidos como a cobra que uma artista tem e a cobra
não tem veneno.
Nos
filmes de Blade Runner e trabalhado bastante sobre a questão da memória, dos
nossos medos e fantasias como também a perda de identidade e desumanização, só
que de formas e focos diferentes com por exemplo nos filmes são apresentados os
replicantes (perfeitos humanoides) que não tem passado ou memória, sendo essa a
única diferença entre eles e os humanos.
No
Blade Runner de 1982 se e trabalhado como se o mundo estivesse em uma amnésia
coletiva, termo trabalhado pela escritora Myrian Sepúlveda dos Santos (1989) em
seu texto “O Pesadelo Da Amnésia Coletiva: um estudo sobre os conceitos de
memória, tradição e traços do passado” e aborda que “O mundo da amnésia
coletiva é o mundo onde a competitividade, racionalidade e informação
substituem sentimentos, praticas coletivas e vínculos interpessoais presentes
em antigas comunidades” que no caso do filme foram criados replicantes, robôs
criados para guerra, sem memória do passado pois acreditavam que se o “Homens e
mulheres, [..] desprovidos de conhecimento e experiência do passado, se tornam
incapazes de sentir, julgar e defender seus direitos.”, no caso como os
replicantes não tinha memoria do passado e estavam em um ambiente caótico de
guerra achavam que eles não conseguiriam desenvolver nenhum tipo de sentimento
e se rebelar, mas o que aconteceu foi que mesmo em um ambiente caótico os
replicantes conseguiram desenvolver sentimentos como amor e um sentimento de
família e que com esses sentimentos eles se rebelaram e no filme eles buscam a
liberdade e tem a vontade de viver e por isso que quando os criadores deram
conta disso surgiram caçadores de androides, que recebiam dinheiro caso
conseguissem identificar esses replicantes e matarem.
Blade Runner 2049
Nos
filmes de Blade Runner, vimos que a memória é o principal fator que diferencia
um replicante de um humano. A memória, antes da mídia, era constituída de uma
memória coletiva, normalmente construída pela convivência, família e religião.
Dessa forma, cada grupo de indivíduos tinham sua própria memória, o que foi
muito importante para manter uma memória de grupos marginalizados.
Posteriormente,
com o início da mídia de massa, mais especificamente com a criação do cinema, a
memória não é mais limitada a partir da família ou religião, o cinema atinge o
espectador com tal impacto, que acaba por imprimir outras memórias em um
indivíduo, ou seja, uma memória que não é sua começa a te afetar.
Para Alison
Landsberg, essa memória se denomina memória protética, conceito esse que ela
constrói em seu livro Prosthetic memory: the transformation of American
remembrance in the age of the mass culture. De acordo com Landsberg, a memória
protética é construída exteriormente ao indivíduo e esse individuo pela para si
essa memória e se constitui enquanto sujeito considerando aquela memória como
dele, e isso acaba por produzir empatia, como é o caso de nós, brasileiros
nascidos no fim do século XX e início do século XXI, nos sentimos incomodados
com assuntos como holocausto, escravidão ou até mesmo a ditadura, mesmo que não
tenhamos participado efetivamente desses momentos, mas adquirimos esses
sentimentos de raiva pelas pessoas que fizeram isso, e empatia para com as
vítimas desses acontecimentos, através dos filmes assistidos e histórias
contadas.
E essa ideia de
memória protética de Landsberg se relaciona com o filme Blade Runner, tanto o
de 1982 quanto o de 2017, por trabalharem, como dito anteriormente, com a ideia
de que a memória diferencia os humanos dos replicantes. Mas durante ambos os
filmes, percebemos que mesmo a memória do replicante não sendo originaria dele,
ela o constitui enquanto indivíduo e define quem ele é. Ou seja, mesmo que essa
memória não tenha pertencido ao passado do replicante, ela forma o que ele é
durante o presente.
No filme de
2017, Blade Runner 2049, diferente do filme de 1982, os replicantes sabem que
são robos, e sabem que suas memórias são falsas. Um dos pontos mais importantes
para discutir memória nesse filme, é na cena que o K, ao tentar descobrir se
ele é o bebe replicante, vai atrás de uma memory maker (personagem que tem a
função de criar as memórias para os replicantes) para saber se sua memória de
infância é real ou criada. Inicialmente, a personagem memory maker já é
importante para relacionarmos o filme ao conceito de memória protética, pois
marca que as memórias dos replicantes são externas a eles, ou seja, são criados
por outros, e o fato de ela falar que é terceirizada da empresa Wallace, marca
ainda mais um caráter de alteridade da memória, ou seja, essa memória protética
sempre vem de um indivíduo terceiro, que em nada se relaciona com o “recebedor”
da memória. Além disso, nessa mesma cena, após a Doutora analisar a memória de
K e confiar que ela é uma memória real, o personagem tem um primeiro momento de
reação emotiva durante o filme, pois ao perceber que aquela memória foi
realmente vivenciada, aquelas memórias o afetam, e ao perceber como aquela
memória o toca em um nível pessoal, e ao saber que aquela memória é real ele
acredita que é o bebe replicante.
Posteriormente
ele descobre que o bebe replicante é na verdade uma menina e sendo essa a
própria memory maker. E então K percebe que na verdade, aquela memória que o
toca, e traz para ele sentimentos, na verdade não é dele, ela é externa, e que
essa memória também é inserida em vários outros replicantes pertencentes a um
grupo de revolucionários. E é essa memória, sofrida e dolorosa, que aconteceu
inicialmente com a Doutora, mas que foi adquirida pelos outros replicantes que
une os replicantes revolucionários, e para além da empatia que os unem, essa
memória protética também traz consigo um potencial político, que acaba por unir
os replicantes em busca de uma liberdade. Ou seja, essa memória protética que
os replicantes adquirem para si, e que os constituem como indivíduos,
possibilita também que eles se constituam enquanto comunidade e se unifiquem.
Solaris
(1972)
O título do filme é o nome de um
planeta descoberto e explorado pelos russos. Segundo relatos de astronautas que
lá estiveram, o oceano de Solaris é na verdade um enorme organismo que cobre
grande parte de sua superfície, e funciona como um cérebro, capaz de
comunicar-se com seres humanos gerando materializações baseadas em memórias
retiradas de suas mentes. Neste sentido Solaris é como o abismo da famosa frase
de Nietzche, que quanto mais é encarado, mais profundamente olha o
interior de quem o encara.
Apesar do alarde gerado por este
primeiro contato, a grande maioria dos responsáveis pelo empreendimento
científico vê os relatos de quem esteve lá com desconfiança, desencorajando
novas viagens exploratórias. Décadas se passam, e os russos perdem o interesse
de continuar suas pesquisas no planeta, limitando-as a uma estação orbital
composta de uma equipe de apenas três cientistas.
A história do filme começa do ponto em
que um dos cientistas da estação morre sob circunstâncias misteriosas, levando
o programa espacial russo a escalar o psicólogo Kris Kelvin (Donatas
Banionis) para substituí-lo.
Tarkovsky não tem pressa para chegar ao
ponto onde Kris finalmente entra na estação que servirá de cenário para a maior
parte da história. O primeiro ato, que ocupa quase um terço da duração do
filme, se passa na Terra. Nele vemos o protagonista andando serenamente pelas
cercanias da casa de campo de seu pai. A câmera do diretor examina com cuidado
as plantas, árvores, um riacho, servindo ao propósito de subjetivar o último
contato do protagonista com uma paisagem terrestre antes de sua viagem
espacial.
Mais tarde temos nosso primeiro acesso
a informações sobre Solaris através de relatos gravados décadas atrás (a data
não é especificada) nos quais Henri Brenton (Vladislav Dvorzhetsky)
descreve os estranhos fenômenos que presenciou enquanto sobrevoava a superfície
do planeta em busca de cientistas desaparecidos em uma missão
exploratória. É neste ponto que Tarkovsky apresenta o primeiro indício do
exercício estilístico que realizará em toda a película. A fotografia muda para
uma monocromia azulada, buscando diferenciar o passado do presente. Até aí nada
que desperte muita atenção. Porém, conforme a trama se desenrola, notamos uma
variação fotográfica que passa a pontuá-la até sua conclusão, e releva-se como
a principal chave fornecida por Tarkovsky para desvendarmos a história e seus
personagens.
Um detalhe que pode gerar estranheza, e
até ser visto como deficiência do roteiro e das interpretações, é a maneira
fria e superficial com que os dois cientistas remanescentes interagem com Kris.
Pouco descobrimos sobre eles, apenas que o Dr. Sartorius (Anatoli Solonitsyn)
é mais arisco e obcecado por seu trabalho, sempre trancado em seu laboratório
realizando experimentos, enquanto o Dr. Snaut (Jüri Järvet) é o mais
passivo diante da situação em que se encontram, aceitando-a e usando-a como
meio de refletir a respeito do significado daqueles fenômenos não somente para
eles, mas para toda a humanidade que os três ali representam.
Kris naturalmente é o personagem
explorado com mais profundidade pela trama. É através dele que descobrimos mais
a respeito de Solaris. A partir de seu contato com Sarotius e Snaut concluímos
que a carência física e emocional daqueles homens está diretamente relacionada
às materializações que vem “assombrando” a estação, algo que se confirma mais
tarde quando Kris entra em contato com uma manifestação intimamente ligada a
ele.
O suspense que conduz à primeira
aparição de Hari (Natalya Bondarchuk) é bem construído por Tarkovsky.
Primeiro vemos Kris assistindo os últimos “vídeo-diários” gravados pelo Dr. Gibarian
(Sos Sargsyan), pouco antes de seu falecimento. Em seguida a fotografia
fica monocromática, comentando a impressão que o vídeo causou em Kris. Depois
torna-se preta e branca, ganhando ainda mais contraste e expressividade assim
que ele adormece, dando um aspecto lúgubre ao quarto, para, na cena seguinte,
sermos surpreendidos pelos tons quentes e aconchegantes que invadem o ambiente
assim que temos o primeiro vislumbre de Hari. É importante também notar que as
cores presentes tanto nesta quanto na segunda manifestação/ressurreição de Hari
remetem diretamente à cor do oceano de Solaris.
A capacidade
regenerativa que Hari apresenta mais adiante é outro detalhe que não pode ser
ignorado. Sendo ela a materialização de uma memória persistente de Kris, seu
“poder” provém da vontade inabalável do protagonista em preservá-la, daí o fato
de ela sobreviver a ferimentos físicos que não alcançam a profundidade
psicológica necessária para afetá-la de maneira irreversível. E, o mais
importante, é através dela que a ligação entre Solaris e o psicólogo se
fortalece.
Esse fortalecimento dos laços afetivos
entre Kris e Hari é bem trabalhado pela trama. No início o psicólogo trata Hari
friamente, sabendo de sua verdadeira natureza, e temendo envolver-se com
algo/alguém que não é o que parece ser. Porém, após a segunda vinda de Hari,
Kris muda de atitude, inicialmente movido pela culpa, até admitir sua própria carência
afetiva. Assim, ele se deixa envolver cada vez mais por sua lembrança
manifesta.
O homem como um ser
que necessita do outro para manter-se são e consciente de sua própria
individualidade é uma ideia recorrente na psicologia, e um conceito importante
abordado pelo filme através da interação de Kris com Hari/Solaris, que chegam
ao ponto de desenvolverem uma espécie de conexão telepática. Daí a cena próxima
ao fim, na qual Kris é conduzido por múltiplas e simultâneas manifestações de
Hari para dentro de uma memória sua (indicada pela fotografia em preto e
branco) onde reencontra sua falecida mãe (o primeiro “outro” com que o ser em
desenvolvimento tem contato após nascer). É a partir deste reencontro onírico
que Solaris passa a ter pleno acesso às memórias de Kris, essencial para a
compreensão da atordoante conclusão do longa.
Snaut fala sobre o
surgimento, muito sugestivo, de ilhas no oceano de Solaris, que acabam por
confirmar as impressões do cientista sobre as aspirações humanas.
Um dos elementos mais
amplos no filme é discutir o que é real e o que não é, como o caso de Kelvin
que vê sua esposa, que morreu há 10 anos, porém, não é a sua esposa, e sim uma
‘representação’ dela, fenômeno que é causado por um oceano, que começou a sondar
a mente da tripulação, e a materializar, como vivas, as memórias mais profundas
destas. Já ouviu falar que muitas vezes nossas memorias podem ser criadas? E
muitas vezes, por acreditarmos que algo realmente aconteceu, se torna concreto
para nós?
O
filme foca no inconsciente do indivíduo, foca em pensar se o que nos rodeia e
enxergamos é real, como lidar com o que não enxergamos, e mesmo não enxergando
conseguimos sentir e mergulhar em nós mesmos... Por mais que Solaris se trate
de um filme ‘futurístico’, ele não se centra em naves espaciais, descrições,
robôs, etc.… ele se foca mais na humanidade dos astronautas e seu próprio
inconsciente.
“Não queremos
conquistar o espaço. Queremos expandir a Terra infinitamente. Não queremos
novos mundos; queremos um espelho. Buscamos um contato que jamais alcançaremos.
Estamos na tola posição de um homem lutando por um objetivo que teme e não
deseja. O homem precisa do homem!” - Dr. Snaut
Solaris
(2002)
“I love you so much,
Chris. Don´t you love me anymore?”. Esta frase proferida logo no começo do filme carrega uma
voz feminina e ecoa na cabeça de Chris Kelvin,
protagonista do filme, enquanto ele está sentado em sua cama. Trata-se da voz
de Rheya, o amor de sua vida que se suicidou deixando-o perturbado e com um
sentimento de perda extremamente doloroso.
Chris lembra-se constantemente
de sua amada. Ao acompanharmos seu dia no começo do filme percebemos o quanto o
personagem é atormentado pelas lembranças de Rheya, mesmo quando está cercado
por pessoas no trem. Trata-se de um local repleto de estímulos visuais, táteis,
sonoros, mas Chris permanece imerso em pensamentos, alheio a tudo e todos, pois
foi ali que viu sua amada pela primeira vez.
Podemos observar que esse
comportamento acontece, de acordo com Eliza Bachega Casadei (2012, p.51),
“justamente em torno da noção de uma memória que se apresenta como uma ação
repetida que está articulada a noção freudiana de memória”. Para Freud “as
percepções são depositadas na memória sob a forma de traços que, armazenados em
forma de duplicata a partir de princípios diversos, formam uma extensa rede de
memórias ligadas em série” (CASADEI, 2012, p. 51).
Ao parafrasear Freud (1998),
Casadei (2012) explica que o inconsciente freudiano é formado por memórias
retidas que podem ou não se manifestar, mas estão ali. Dessa forma, o recordar
traduz-se como repetição. O que esquecemos ou reprimimos é expresso em ações,
em repetições sem, necessariamente, sabermos o que estamos repetindo.
Por
exemplo, o paciente não diz que recorda que costumava ser desafiador e crítico
em relação à autoridade dos pais; em vez disso, comporta-se dessa maneira para
com o médico. Não se recorda de como chegou a um impotente e desesperado
impasse em suas pesquisas sexuais infantis; mas produz uma massa de sonhos e
associações confusas, queixa-se de que não consegue ter sucesso em nada e
assevera estar fadado a nunca levar a cabo o que empreende. Não se recorda de
ter-se envergonhado intensamente de certas atividades sexuais e de ter tido
medo de elas serem descobertas; mas demonstra achar-se envergonhado do
tratamento que agora empreendeu e tenta escondê-lo de todos. E assim por diante
(FREUD, 1998, p. 93).
As ações de Chris mostram essa
repetição. Após desembarcar na estação especial que orbita o plante Solaris
para investigar estranhos acontecimentos, Chris se depara com Rheya a sua
frente.
Após
encontrar a cópia de Rheya, Chris pergunta para o outro tripulante da nave,
Snow, “what was that?” e este lhe responde “Do you want her
to come back?”. É a resposta a essa pergunta que posiciona a função da
memória do filme, mostrando-a enquanto um passado que não só se manifesta no
presente, mas que se repete e, ao se repetir, forma novas ligações com o atual
construindo uma rede. McFarland (2011) chama a atenção para este fato quando
coloca que “a pergunta de Snow implica que Solaris pode oferecer apenas uma
repetição sem fim” da imagem de Rheya (CASADEI, 2012, p. 52).
A resposta de Snow nos instiga
a pensar que o sofrimento de Chris é, também, o que Freud entende como gozo. “O
sintoma é o lugar paradoxal onde o sujeito, sem que ele o saiba, tem a sua
satisfação sexual e, também, o seu sofrimento” enquanto “uma satisfação
substituta de uma série de fantasias e de recordações de experiências
traumáticas” (Apud. DIAS, 2006: 401).
Essa repetição intimamente
ligada ao gozo pode ser observada diversas vezes. Chris é assombrado pela
lembrança suicida de Rheya que, na estação espacial, é repetida quando a
personagem ingere oxigênio liquido e morre. No entanto, a personagem ressuscita
logo depois e Chris começa a vigia-la para que não cometa suicídio novamente.
A constante recusa em deixar a
personagem partir e o tormento que o corrói por considerar que “lembra-se
errado”, seja, exatamente por lembrar-se de Rheya como suicida, são sofrimentos
constantemente vividos pelo personagem que se repetem e repetem. Trata-se de um
“lugar que representa ao mesmo tempo o prazer e o sofrimento enquanto ação
repetitiva” (CASADEI, 2012, p. 53). Este lugar é simbolizado por Rheya como
afirma a autora.