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domingo, 9 de dezembro de 2018

Das maiorias ao indivíduo


Aléxia Amanda Doro
Beatriz Marques Nolli
Betriz Naomi Ichiba
Fernanda Ayumi Sakuma 
Jacqueline Amadio de Abreu
Marcio Soares Pili
Matheus Gonçalves Gorni
Matheus Fiaux



Blade Runner 1982
O “cult movie” da ficção cientifica Blade Runne trouxe uma chocante visão do futuro, o filme se passa por volta dos anos 2000 e o planeta terra está em total decadência , a engenharia genética se tornou uma das maiores indústria de replicantes ( robôs com uma inteligência e força extraordinária), que são tão parecidos com os humanos que e praticamente indistinguível, como vimos no filme uma cena o qual o protagonista Rick Deckard( interpretado por Harrison Ford) matou uma replicante e ela sangrava como um ser humano sangraria, como também animais replicados sendo vendidos como a cobra que uma artista tem e a cobra não tem veneno.
Nos filmes de Blade Runner e trabalhado bastante sobre a questão da memória, dos nossos medos e fantasias como também a perda de identidade e desumanização, só que de formas e focos diferentes com por exemplo nos filmes são apresentados os replicantes (perfeitos humanoides) que não tem passado ou memória, sendo essa a única diferença entre eles e os humanos.
No Blade Runner de 1982 se e trabalhado como se o mundo estivesse em uma amnésia coletiva, termo trabalhado pela escritora Myrian Sepúlveda dos Santos (1989) em seu texto “O Pesadelo Da Amnésia Coletiva: um estudo sobre os conceitos de memória, tradição e traços do passado” e aborda que “O mundo da amnésia coletiva é o mundo onde a competitividade, racionalidade e informação substituem sentimentos, praticas coletivas e vínculos interpessoais presentes em antigas comunidades” que no caso do filme foram criados replicantes, robôs criados para guerra, sem memória do passado pois acreditavam que se o “Homens e mulheres, [..] desprovidos de conhecimento e experiência do passado, se tornam incapazes de sentir, julgar e defender seus direitos.”, no caso como os replicantes não tinha memoria do passado e estavam em um ambiente caótico de guerra achavam que eles não conseguiriam desenvolver nenhum tipo de sentimento e se rebelar, mas o que aconteceu foi que mesmo em um ambiente caótico os replicantes conseguiram desenvolver sentimentos como amor e um sentimento de família e que com esses sentimentos eles se rebelaram e no filme eles buscam a liberdade e tem a vontade de viver e por isso que quando os criadores deram conta disso surgiram caçadores de androides, que recebiam dinheiro caso conseguissem identificar esses replicantes e matarem.
  




Blade Runner 2049
Nos filmes de Blade Runner, vimos que a memória é o principal fator que diferencia um replicante de um humano. A memória, antes da mídia, era constituída de uma memória coletiva, normalmente construída pela convivência, família e religião. Dessa forma, cada grupo de indivíduos tinham sua própria memória, o que foi muito importante para manter uma memória de grupos marginalizados.
Posteriormente, com o início da mídia de massa, mais especificamente com a criação do cinema, a memória não é mais limitada a partir da família ou religião, o cinema atinge o espectador com tal impacto, que acaba por imprimir outras memórias em um indivíduo, ou seja, uma memória que não é sua começa a te afetar.
Para Alison Landsberg, essa memória se denomina memória protética, conceito esse que ela constrói em seu livro Prosthetic memory: the transformation of American remembrance in the age of the mass culture. De acordo com Landsberg, a memória protética é construída exteriormente ao indivíduo e esse individuo pela para si essa memória e se constitui enquanto sujeito considerando aquela memória como dele, e isso acaba por produzir empatia, como é o caso de nós, brasileiros nascidos no fim do século XX e início do século XXI, nos sentimos incomodados com assuntos como holocausto, escravidão ou até mesmo a ditadura, mesmo que não tenhamos participado efetivamente desses momentos, mas adquirimos esses sentimentos de raiva pelas pessoas que fizeram isso, e empatia para com as vítimas desses acontecimentos, através dos filmes assistidos e histórias contadas. 
E essa ideia de memória protética de Landsberg se relaciona com o filme Blade Runner, tanto o de 1982 quanto o de 2017, por trabalharem, como dito anteriormente, com a ideia de que a memória diferencia os humanos dos replicantes. Mas durante ambos os filmes, percebemos que mesmo a memória do replicante não sendo originaria dele, ela o constitui enquanto indivíduo e define quem ele é. Ou seja, mesmo que essa memória não tenha pertencido ao passado do replicante, ela forma o que ele é durante o presente. 
No filme de 2017, Blade Runner 2049, diferente do filme de 1982, os replicantes sabem que são robos, e sabem que suas memórias são falsas. Um dos pontos mais importantes para discutir memória nesse filme, é na cena que o K, ao tentar descobrir se ele é o bebe replicante, vai atrás de uma memory maker (personagem que tem a função de criar as memórias para os replicantes) para saber se sua memória de infância é real ou criada. Inicialmente, a personagem memory maker já é importante para relacionarmos o filme ao conceito de memória protética, pois marca que as memórias dos replicantes são externas a eles, ou seja, são criados por outros, e o fato de ela falar que é terceirizada da empresa Wallace, marca ainda mais um caráter de alteridade da memória, ou seja, essa memória protética sempre vem de um indivíduo terceiro, que em nada se relaciona com o “recebedor” da memória. Além disso, nessa mesma cena, após a Doutora analisar a memória de K e confiar que ela é uma memória real, o personagem tem um primeiro momento de reação emotiva durante o filme, pois ao perceber que aquela memória foi realmente vivenciada, aquelas memórias o afetam, e ao perceber como aquela memória o toca em um nível pessoal, e ao saber que aquela memória é real ele acredita que é o bebe replicante.  
Posteriormente ele descobre que o bebe replicante é na verdade uma menina e sendo essa a própria memory maker. E então K percebe que na verdade, aquela memória que o toca, e traz para ele sentimentos, na verdade não é dele, ela é externa, e que essa memória também é inserida em vários outros replicantes pertencentes a um grupo de revolucionários. E é essa memória, sofrida e dolorosa, que aconteceu inicialmente com a Doutora, mas que foi adquirida pelos outros replicantes que une os replicantes revolucionários, e para além da empatia que os unem, essa memória protética também traz consigo um potencial político, que acaba por unir os replicantes em busca de uma liberdade. Ou seja, essa memória protética que os replicantes adquirem para si, e que os constituem como indivíduos, possibilita também que eles se constituam enquanto comunidade e se unifiquem.





Solaris (1972)
O título do filme é o nome de um planeta descoberto e explorado pelos russos. Segundo relatos de astronautas que lá estiveram, o oceano de Solaris é na verdade um enorme organismo que cobre grande parte de sua superfície, e funciona como um cérebro, capaz de comunicar-se com seres humanos gerando materializações baseadas em memórias retiradas de suas mentes. Neste sentido Solaris é como o abismo da famosa frase de Nietzche, que quanto mais é encarado, mais profundamente olha o interior de quem o encara.
Apesar do alarde gerado por este primeiro contato, a grande maioria dos responsáveis pelo empreendimento científico vê os relatos de quem esteve lá com desconfiança, desencorajando novas viagens exploratórias. Décadas se passam, e os russos perdem o interesse de continuar suas pesquisas no planeta, limitando-as a uma estação orbital composta de uma equipe de apenas três cientistas.
A história do filme começa do ponto em que um dos cientistas da estação morre sob circunstâncias misteriosas, levando o programa espacial russo a escalar o psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis) para substituí-lo.
Tarkovsky não tem pressa para chegar ao ponto onde Kris finalmente entra na estação que servirá de cenário para a maior parte da história. O primeiro ato, que ocupa quase um terço da duração do filme, se passa na Terra. Nele vemos o protagonista andando serenamente pelas cercanias da casa de campo de seu pai. A câmera do diretor examina com cuidado as plantas, árvores, um riacho, servindo ao propósito de subjetivar o último contato do protagonista com uma paisagem terrestre antes de sua viagem espacial.
Mais tarde temos nosso primeiro acesso a informações sobre Solaris através de relatos gravados décadas atrás (a data não é especificada) nos quais Henri Brenton (Vladislav Dvorzhetsky) descreve os estranhos fenômenos que presenciou enquanto sobrevoava a superfície do planeta em busca de cientistas desaparecidos em uma missão exploratória. É neste ponto que Tarkovsky apresenta o primeiro indício do exercício estilístico que realizará em toda a película. A fotografia muda para uma monocromia azulada, buscando diferenciar o passado do presente. Até aí nada que desperte muita atenção. Porém, conforme a trama se desenrola, notamos uma variação fotográfica que passa a pontuá-la até sua conclusão, e releva-se como a principal chave fornecida por Tarkovsky para desvendarmos a história e seus personagens.
Um detalhe que pode gerar estranheza, e até ser visto como deficiência do roteiro e das interpretações, é a maneira fria e superficial com que os dois cientistas remanescentes interagem com Kris. Pouco descobrimos sobre eles, apenas que o Dr. Sartorius (Anatoli Solonitsyn) é mais arisco e obcecado por seu trabalho, sempre trancado em seu laboratório realizando experimentos, enquanto o Dr. Snaut (Jüri Järvet) é o mais passivo diante da situação em que se encontram, aceitando-a e usando-a como meio de refletir a respeito do significado daqueles fenômenos não somente para eles, mas para toda a humanidade que os três ali representam. 
Kris naturalmente é o personagem explorado com mais profundidade pela trama. É através dele que descobrimos mais a respeito de Solaris. A partir de seu contato com Sarotius e Snaut concluímos que a carência física e emocional daqueles homens está diretamente relacionada às materializações que vem “assombrando” a estação, algo que se confirma mais tarde quando Kris entra em contato com uma manifestação intimamente ligada a ele.
O suspense que conduz à primeira aparição de Hari (Natalya Bondarchuk) é bem construído por Tarkovsky. Primeiro vemos Kris assistindo os últimos “vídeo-diários” gravados pelo Dr. Gibarian (Sos Sargsyan), pouco antes de seu falecimento. Em seguida a fotografia fica monocromática, comentando a impressão que o vídeo causou em Kris. Depois torna-se preta e branca, ganhando ainda mais contraste e expressividade assim que ele adormece, dando um aspecto lúgubre ao quarto, para, na cena seguinte, sermos surpreendidos pelos tons quentes e aconchegantes que invadem o ambiente assim que temos o primeiro vislumbre de Hari. É importante também notar que as cores presentes tanto nesta quanto na segunda manifestação/ressurreição de Hari remetem diretamente à cor do oceano de Solaris.
A capacidade regenerativa que Hari apresenta mais adiante é outro detalhe que não pode ser ignorado. Sendo ela a materialização de uma memória persistente de Kris, seu “poder” provém da vontade inabalável do protagonista em preservá-la, daí o fato de ela sobreviver a ferimentos físicos que não alcançam a profundidade psicológica necessária para afetá-la de maneira irreversível. E, o mais importante, é através dela que a ligação entre Solaris e o psicólogo se fortalece.
Esse fortalecimento dos laços afetivos entre Kris e Hari é bem trabalhado pela trama. No início o psicólogo trata Hari friamente, sabendo de sua verdadeira natureza, e temendo envolver-se com algo/alguém que não é o que parece ser. Porém, após a segunda vinda de Hari, Kris muda de atitude, inicialmente movido pela culpa, até admitir sua própria carência afetiva. Assim, ele se deixa envolver cada vez mais por sua lembrança manifesta. 
O homem como um ser que necessita do outro para manter-se são e consciente de sua própria individualidade é uma ideia recorrente na psicologia, e um conceito importante abordado pelo filme através da interação de Kris com Hari/Solaris, que chegam ao ponto de desenvolverem uma espécie de conexão telepática. Daí a cena próxima ao fim, na qual Kris é conduzido por múltiplas e simultâneas manifestações de Hari para dentro de uma memória sua (indicada pela fotografia em preto e branco) onde reencontra sua falecida mãe (o primeiro “outro” com que o ser em desenvolvimento tem contato após nascer). É a partir deste reencontro onírico que Solaris passa a ter pleno acesso às memórias de Kris, essencial para a compreensão da atordoante conclusão do longa.
Snaut fala sobre o surgimento, muito sugestivo, de ilhas no oceano de Solaris, que acabam por confirmar as impressões do cientista sobre as aspirações humanas.
Um dos elementos mais amplos no filme é discutir o que é real e o que não é, como o caso de Kelvin que vê sua esposa, que morreu há 10 anos, porém, não é a sua esposa, e sim uma ‘representação’ dela, fenômeno que é causado por um oceano, que começou a sondar a mente da tripulação, e a materializar, como vivas, as memórias mais profundas destas. Já ouviu falar que muitas vezes nossas memorias podem ser criadas? E muitas vezes, por acreditarmos que algo realmente aconteceu, se torna concreto para nós?
O filme foca no inconsciente do indivíduo, foca em pensar se o que nos rodeia e enxergamos é real, como lidar com o que não enxergamos, e mesmo não enxergando conseguimos sentir e mergulhar em nós mesmos... Por mais que Solaris se trate de um filme ‘futurístico’, ele não se centra em naves espaciais, descrições, robôs, etc.… ele se foca mais na humanidade dos astronautas e seu próprio inconsciente.

“Não queremos conquistar o espaço. Queremos expandir a Terra infinitamente. Não queremos novos mundos; queremos um espelho. Buscamos um contato que jamais alcançaremos. Estamos na tola posição de um homem lutando por um objetivo que teme e não deseja. O homem precisa do homem!” - Dr. Snaut




Solaris (2002)
 “I love you so much, Chris. Don´t you love me anymore?”*. Esta frase proferida logo no começo do filme carrega uma voz feminina e ecoa na cabeça de Chris Kelvin, protagonista do filme, enquanto ele está sentado em sua cama. Trata-se da voz de Rheya, o amor de sua vida que se suicidou deixando-o perturbado e com um sentimento de perda extremamente doloroso.
Chris lembra-se constantemente de sua amada. Ao acompanharmos seu dia no começo do filme percebemos o quanto o personagem é atormentado pelas lembranças de Rheya, mesmo quando está cercado por pessoas no trem. Trata-se de um local repleto de estímulos visuais, táteis, sonoros, mas Chris permanece imerso em pensamentos, alheio a tudo e todos, pois foi ali que viu sua amada pela primeira vez.
Podemos observar que esse comportamento acontece, de acordo com Eliza Bachega Casadei (2012, p.51), “justamente em torno da noção de uma memória que se apresenta como uma ação repetida que está articulada a noção freudiana de memória”. Para Freud “as percepções são depositadas na memória sob a forma de traços que, armazenados em forma de duplicata a partir de princípios diversos, formam uma extensa rede de memórias ligadas em série” (CASADEI, 2012, p. 51).
Ao parafrasear Freud (1998), Casadei (2012) explica que o inconsciente freudiano é formado por memórias retidas que podem ou não se manifestar, mas estão ali. Dessa forma, o recordar traduz-se como repetição. O que esquecemos ou reprimimos é expresso em ações, em repetições sem, necessariamente, sabermos o que estamos repetindo.

                                     Por exemplo, o paciente não diz que recorda que costumava ser desafiador e crítico em relação à autoridade dos pais; em vez disso, comporta-se dessa maneira para com o médico. Não se recorda de como chegou a um impotente e desesperado impasse em suas pesquisas sexuais infantis; mas produz uma massa de sonhos e associações confusas, queixa-se de que não consegue ter sucesso em nada e assevera estar fadado a nunca levar a cabo o que empreende. Não se recorda de ter-se envergonhado intensamente de certas atividades sexuais e de ter tido medo de elas serem descobertas; mas demonstra achar-se envergonhado do tratamento que agora empreendeu e tenta escondê-lo de todos. E assim por diante (FREUD, 1998, p. 93).

As ações de Chris mostram essa repetição. Após desembarcar na estação especial que orbita o plante Solaris para investigar estranhos acontecimentos, Chris se depara com Rheya a sua frente.

                                     Após encontrar a cópia de Rheya, Chris pergunta para o outro tripulante da nave, Snow, “what was that?”* e este lhe responde “Do you want her to come back?”*. É a resposta a essa pergunta que posiciona a função da memória do filme, mostrando-a enquanto um passado que não só se manifesta no presente, mas que se repete e, ao se repetir, forma novas ligações com o atual construindo uma rede. McFarland (2011) chama a atenção para este fato quando coloca que “a pergunta de Snow implica que Solaris pode oferecer apenas uma repetição sem fim” da imagem de Rheya (CASADEI, 2012, p. 52).

A resposta de Snow nos instiga a pensar que o sofrimento de Chris é, também, o que Freud entende como gozo. “O sintoma é o lugar paradoxal onde o sujeito, sem que ele o saiba, tem a sua satisfação sexual e, também, o seu sofrimento” enquanto “uma satisfação substituta de uma série de fantasias e de recordações de experiências traumáticas” (Apud. DIAS, 2006: 401).
Essa repetição intimamente ligada ao gozo pode ser observada diversas vezes. Chris é assombrado pela lembrança suicida de Rheya que, na estação espacial, é repetida quando a personagem ingere oxigênio liquido e morre. No entanto, a personagem ressuscita logo depois e Chris começa a vigia-la para que não cometa suicídio novamente.
A constante recusa em deixar a personagem partir e o tormento que o corrói por considerar que “lembra-se errado”, seja, exatamente por lembrar-se de Rheya como suicida, são sofrimentos constantemente vividos pelo personagem que se repetem e repetem. Trata-se de um “lugar que representa ao mesmo tempo o prazer e o sofrimento enquanto ação repetitiva” (CASADEI, 2012, p. 53). Este lugar é simbolizado por Rheya como afirma a autora.







* “Eu te amo muito, Chris. Você não me ama mais?”
* “O que foi aquilo?”
* “Você quer que ela volte?”

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