Essa exposição foi pensada como um diálogo com nosso primeiro trabalho realizado na matéria de Arte e Ciências I, representando uma mostra de grandes figuras históricas provindas
duma terrível distopia formulada por nós. Uma distopia que possui seus ciclos
repetitivos de violência em movimentos análogos e sem fim. No mundo dos macacos
a história sempre se repete. Obviamente essa é uma história de ficção que se
passa em um mundo onde os participantes dessa história não se lembram de fatos
que aconteceram nas gerações anteriores, quiçá a duas gerações, muito diferente
de nossa realidade. Os engraçados e tristes macacos dessa história são
manipulados de novo e de novo, onde cada um aprendeu a pensar criticamente e
fazer suas escolhas de modo pensado e racional. A racionalidade é mesmo uma
benção, não é¿
A exposição apresenta imagens de glória de
macacos que foram grandes líderes deste mundo, grandes e terríveis figuras. O
primeiro deles, Magno Macaco, unificou seu povo e invadiu terras, escravizou
povos, matou e pilhou, sob o discurso da grandeza de seu império. Ficou
conhecido pela história dos macacos como Imperador Magno Macaco.
O segundo deles foi um macaco sacerdote que
servia a uma crença que oprimia os primatas da época, e eles adoravam. Faziam
oferendas de alimentos como moeda de troca, por vezes oferecendo a própria vida
ao serviço do credo. Este macaco, Sacerdote Virtuoso, ordenou que perseguissem
e queimassem os que não obedeciam ao dito credo à risca. E os macacos o adoravam,
juntavam-se para assistir as execuções e se regozijavam na ideia de estarem
sendo limpos do “mal”. Até hoje, a maioria segue esta mesma doutrina.
O terceiro deles, Soberano Solzinho, foi um rei
entre seu povo. Não por que era o mais forte ou mais apto, mas por que nasceu em
uma família de governantes. Soberano Solzinho pensava que era sublime por ter
sido escolhido pelo “divino”, deus que os fez à sua imagem e semelhança. Esse
rei, ao longo de sua vida, faliu os cofres de seu reino, condenando seu povo à
miséria que durou gerações. Como consequência, um conflito político deu fim à
vida de seu descendente, último de sua linhagem monárquica. Foi enforcado pelos
macacos do povo, cansados de viver em tal condição. E você acha que eles
aprenderam sua lição¿¿¿
Claro que não! O mundo distópico de macacos que
não aprendem com o passado continuou com suas guerras, seus ditadores, seus
reinados até que um dia em uma terra fria e devastada pela guerra apareceu um
grande macaco. Bigodinho era um macaco esperto que falava o que seus pares
queriam ouvir. Muito carismático, Bigodinho convenceu-os de que os culpados do
problema eram outro grupo com o qual conviviam, mas com hábitos, culturas e ascendências
diferentes. Simultaneamente, outro personagem de nossa história apareceu numa diferente
selva. Benitinho era seu nome, e assim como o outro, desejava fazer o mundo ser
exatamente como ele achava. Perseguiram os ditos diferentes, mataram e
torturaram milhões na busca de “purificar sua terra e seu povo”. Eles foram tão
longe que deixaram de ser símios, tornaram-se outra coisa. Algo menos bicho e
mais máquina. Máquina opressora, máquina de matar e agora não tinha mais volta.
Quando estes líderes caíram, os outros primatas perceberam o absurdo com a qual
foram coniventes e se revoltaram contra as atrocidades, jurando nunca mais
cometer o mesmo erro. Bigodinho e Benitinho se tornaram párias, odiados e com
razão.
Símios se revoltaram contra as condições
péssimas na qual viviam e decidiram fazer um governo do povo pelo povo. Tomaram
então os meios de produção e por um breve momento na história todos pensaram
que este seria o caminho para a evolução, entretanto muitos morreram neste
processo. E de novo, como esperado, os macacos elegeram um líder. Primatov
também queria fazer um mundo que funcionasse à sua própria visão, para fazer isso
acontecer matou e oprimiu milhões no processo, tornando-se mais um ciborgue.
Em resultado disso, noutras partes do mundo macacos
mais abastados tomaram governos de terras menos aptas a se defender. Em uma
delas surgiu outro protagonista de nossa exposição, o Médico Dumal. Ele separava famílias e torturava quem
não concordasse com sua tirania. Muitos sumiram e até hoje não se sabe o que
aconteceu com eles. Médico Dumal começou sua jornada, já meio macaco, meio
máquina. Dizem que corre na família, ‘uns nascem mais máquina, outros menos’.
Pensaram que
os macacos perceberiam que estavam novamente cometendo o mesmo erro¿ Não. Agora
todos já eram uma mistura de matéria orgânica e máquina. Robôs sabem o que são programados para saber.
Os Macacobôs cada vez mais se orgulhavam de sua dita civilidade, e seus direitos
diziam que todos eram iguais. Um belo dia surgiu o Palhaço, provindo de uma
casta rica de macacobôs que já eram mais autômato do que símio, decidindo
ingressar na política. Fez sua campanha baseada no ódio aos vizinhos, prometendo
fazer um muro que bloqueasse a fronteira, fazendo a terra grandiosa novamente.
Os macacos que prometeram não cometer o mesmo erro o elegeram com aplausos e
ele se tornou um dos indivíduos mais poderosos do mundo. Palhaço não fez o muro
que prometeu, mas separou famílias, traumatizou filhotes, pregando e alastrando
seu ponto de vista violento.
Enquanto isso os macacobôs de outras pátrias
assistiam horrorizados e pensavam: “Jamais aceitaria tal coisa¡ Somos
bons¡ Somos justos¡ Somos civilizados¡”. Em
uma dessas terras vizinhas, surgiu o Bonobobo. Assim como Bigodinho e Benitinho, dizia aquilo que os “primatas
de bem” queriam falar e não tinham coragem. Segundo ele, quem amasse o igual
era maldito, as fêmeas pertenciam a um patamar menor perante machos, os macacos
nativos não mereciam suas terras. Não possuía respeito pela natureza e seus
recursos. Incitava a violência e o uso de armas. E ainda assim foi aplaudido
pelos macacos de bem, os civilizados que queriam “o melhor” para todos os
macacobôs, chamado de mito e considerado um salvador.
Os macacobôs continuaram sem aprender com seus
erros, se tornando androides, cada vez mais sem a capacidade de entender o
outro como parte de si. De anos em anos escolhiam seus líderes, que encabeçavam
matanças para proteger interesses econômicos. Por fim, todos haviam se
transformado em robôs oprimidos, infelizes, famintos. Eles prometiam não
esquecer, mas apenas se lembravam do que era dito para se lembrarem. Não eram
mais macacobôs, eram apenas robôs condicionados à uma existência dócil e
disciplinada, sustentando as engrenagens de seu próprio inferno. Eventualmente,
do alto de sua civilidade, eles se matavam. E se mataram. E se mataram. E se
mataram. Se mataram até não sobrar nenhum. Talvez tenha sido para o melhor.
Imperador Magno Macaco |
Sacerdote Virtuoso |
Soberano Solzinho |
Bigodinho |
Benitinho |
Primatov |
Médico Dumal |
Palhaço |
Bonobobo
Alunas: Débora Curti, Jordana Amboni, Lívia Bernardo e Maria Helena.
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