A pintura "An Experiment on a Bird in the Air Pump", do pintor inglês Joseph Wright of Derby, parece demonstrar o entusiasmo ao método experimental da “nova ciência” idealizada pela primeira modernidade filosófica sob o expoente de pessoas como Galileu Galilei e Francis Bacon.
"An Experiment on a Bird in the Air Pump" - Joseph Wright of Derby |
Nela pode-se ver uma figura, representada na forma de uma pessoa em frente à janela, possivelmente encarregada de fechar a cortina para obstruir a luz da Lua.
Recorte: Luana Mendes |
Baseio a presente releitura nesta figura, na medida em que ela é a responsável pelo que torna o processo científico hermético, fechado, representando o ideal lógico-positivista da testabilidade em condições arbitrariamente conduzidas. Aqui, a assepsia laboratorial da experimentação científica parece deparar-se com um paradoxo epistemológico: a ciência, cuja responsabilidade e objetivo maior é explicar o mundo, acaba por fazê-lo fechando-se do mundo. As paredes brancas do laboratório obstruem a luz que vem de fora.
O conceito de “arte” e “artista”, sendo construtos datados da modernidade renascentista, alterou a noção de “artesão”. Esta remetia à uma pessoa, na maioria das vezes desconhecida, que, até o final da Idade Média, apenas prestava serviços para algo ou alguém. Cria-se, então, uma aura fantasiosa em torno da pessoa do artista na medida em que ele é, a partir de então, considerado um dos poucos gênios portadores de um dom – o dom da arte – concebido por Deus. Isto acaba por distanciar as pessoas da produção artística, desprezando o potencial criador que todos tem em si de forma inerente.
Neste preciso sentido, entendo que a releitura acaba por também limitar este potencial criador, pois tomamos como base obras de artistas renomados para “criar” algo a partir do que já foi criado, o que “fecha as cortinas” do mundo do espírito, da criação e da preservação da ação criativa, imaginativa e subjetiva próprias de todo e qualquer ser humano.
Em meu desenho, escolhi representar a figura do cientista - representado por um personagem criado por mim e que faz parte de minha poética, um cidadão com uma cabeça "proibida", "nula" - em sua prática laboratorial, com as “cortinas fechadas” para todas as variáveis do mundo “lá fora”. Nele, o cientista observa a si mesmo, remetendo às exaustivas repetições experimentais da ciência empírica. Assim, a presente imagem traz à luz o modo como a “objetividade científica” paga seu preço pela explicação na medida em que se divorcia do mundo de fato, “o mundo da ciência” versus “o mundo”; modelo versus Realidade. Da mesma forma, denuncia o caráter limitador da prática tradicional do ensino das Artes com o método de releituras que, na maioria das vezes é feita de maneira errônea pois, ao invés de abrir um leque de possibilidades de criação, acaba por cerrar e limitar a criação à ideias já produzidas.
Técnica: Grafite e lápis de cor sobre folha de papel canson.
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