No Capítulo 01, o Mundo Inferior é apresentado sob o ponto de vista de um
trabalhador, nele as poucas relações estabelecidas entre sujeitos humanos é
mediada por meio da exploração das forças de trabalho. O ambiente do Mundo Inferior pode ser imaginado como o espaço interior de uma fábrica, de uma indústria.
O trabalhador alienado não tem o domínio dos meios de produção, sua existência é
necessária apenas para que produza em abundancia para a Superfície. Consome o
mínimo necessário para continuar vivendo e assim poder continuar produzindo
para a Superfície. Em Tadus, os humanos do Mundo Inferior nunca viram a luz do
dia, tendo habitado apenas o interior da terra. Essa relação de invisibilidade
perante os humanos da Superfície, remete a invisibilidade simbólica e material
da classe operária, dos pobres na visão burguesa, capitalista.
Não é permitido o descanso, o prazer aos
humanos do Mundo Inferior, sintetizando a exploração humana, quem trabalha para
produzir a abundancia para poucos, enquanto sobrevive com quase nada.
O conceito e execução da obra são de autoria dos acadêmicos Lucas Men Benatti, Odonias Souza de Santos Junior e Rafael Carvalho de Almeida.
Pólis
vivia no submundo das cidades. Era filho dos Escondidos, aqueles que nunca
deveriam submergir de suas deficiências as quais lhe lançaram. No mundo acima,
a grande maioria não sabia de suas existências... Não imaginavam que abaixo de
teus pés haviam seres humanos. Que pisavam sobre a carne viva de outros homens.
Poucos eram os membros do Governo que também conheciam suas existências.
Eram
a força oculta que sustentava todo o progresso. Todas as máquinas e tecnologias
existiam por um objetivo e só existiam por uma força humana. Ali, entre a
escuridão e o calor industrial a vida da superfície era criada, era moldada...
Do câncer e da esquizofrenia dava-se a luz a perfeição.
Era
no submundo que o passado dos homens se fazia presente na clandestinidade...
Ali ainda se via e usavam papéis... Ali ainda haviam restos materiais de uma
civilização que não mais existia... No atraso se construía o futuro. Ainda
assim, o passado era proibido... A história do que se foi não deveria ser
lembrada por ninguém... O Novo Mundo, a história dos homens dera início com a
revolução dos governos... Não muito se sabe... Tudo o que se diz é que, do caos
e do medo, o Governador criou a luz e a esperança no mundo...
As
luzes vermelhas e o alarme de aviso gritavam sobre o corpo estendido de
Pólis. O tempo que lhe era permitido
dormir já havia se esgotado. Devia retornar ao seu posto de trabalho. Olhou
pelo vidro embaçado da sua cabine. Uma fila de operários aguardavam pelo seu
momento de descanso do lado de fora. Humanos, não-humanos.
Rapidamente
levantou-se. A idade não lhe era certa. Nem saberia se tinha uma vida ou se
vivia. O cansaço consumia teu corpo. Mirou teu reflexo em uma placa de metal na
parede. Sempre estivera assim. Todos sempre estiveram assim... Como saberiam se
era cansaço ou condição humana da existência?
Pólis
caminhava entre homens e mulheres sujos e fedidos. As luzes lhe queimavam os
olhos. Tudo ali era desgraça... Mas não conseguia imaginar como poderia ser
diferente... Às vezes pegava a devanear em algum breve momento de fraca
esperança... Recordava-se do que um dia, um velho havia lhe dito enquanto engolia
o vomito que lhe serviam...
-
Uma vez eu encontrei um livro... – o velho diminuiu o tom de voz. Estavam
sentados um ao lado do outro, em uma fileira interminável de criaturas que também
se alimentavam – Eu sei ler! Sabe, eu não sou daqui... Não fazia parte da
tecnologia bruta... Fazíamos coisas pequenas de onde eu era... E eles nos
ensinaram a ler... Precisávamos ler para fazer o que nos pediam... Então um dia
eu o encontrei... Estavam nas coisas de um outro cara na verdade e eu o roubei
para mim... Não consegui ler tudo. Antes disso, eles me pegaram... Mas eu me
lembro muito bem do que dizia...
Silêncio.
Apenas o barulho dos comedores famintos. O velho engolia sua pasta. Era como se
houvesse esquecido do que havia dito... Pólis desejava saber mais... Desejava
saber o que estava escrito...
- O
que o livro dizia? – sussurrou temendo ser ouvido pelos outros.
- Ah
sim... Esse mundo que vivemos, esse lugar aqui... É passageiro... Acima de nós
existe um novo mundo, um mundo perfeito... O livro me revelou isso... Vivemos
no Mundo Sublunar, é essa merda aqui onde estamos! Esse é o nosso mundo! Mundo
vazio, da violência, da corrupção, da transitoriedade... Mas acima de nós
existe um outro mundo...
-
Não acredito que exista algo além...
- Eu
acredito! E ainda chegarei até ele... O Mundo Supralunar, o mundo cheio e
perfeito... Conhecerei a quinta essência... E um céu de astros e estrelas
fixas...
Ele não sabia bem ao certo. Na verdade suas lembranças
se embasam na mente, as coisas se tornam foscas e confusas. Todo mundo segue em
fila. Todos seguem em ordem. São reféns dos números que os identificam. São
reféns de cabos e de artimanhas de longas datas. De tempos de onde não se viam
os males. De um tempo que escorria em azul sobre o céu. Seu céu é metal e
cinzas. É ferrugem e frio. Cabos de luz amarelas. Somente...
Pólis
engoliu o fel que regurgitava. Refluxo. Fluxo de lixo.
Todos
os dias a mesma tarefa. Todo momento as mesmas sensações. O que realmente
sentia? O que realmente lhe tocava a pele? Não sabia se gostava. Não sabia que
odiava. Só sabia não saber.
PARA BAIXAR O ARQUIVO COMPLETO COPIE E COLE O LINK ABAIXO EM SEU NAVEGADOR
https://drive.google.com/file/d/0BzFdeFwaqktNZ3pnZ3BoMm4tbGc/view?usp=sharing
Nenhum comentário:
Postar um comentário