Pesquisar este blog

domingo, 12 de fevereiro de 2017

TADUS: Capítulo 01


No Capítulo 01, o Mundo Inferior é apresentado sob o ponto de vista de um trabalhador, nele as poucas relações estabelecidas entre sujeitos humanos é mediada por meio da exploração das forças de trabalho. O ambiente do Mundo Inferior pode ser imaginado como o espaço interior de uma fábrica, de uma indústria. O trabalhador alienado não tem o domínio dos meios de produção, sua existência é necessária apenas para que produza em abundancia para a Superfície. Consome o mínimo necessário para continuar vivendo e assim poder continuar produzindo para a Superfície. Em Tadus, os humanos do Mundo Inferior nunca viram a luz do dia, tendo habitado apenas o interior da terra. Essa relação de invisibilidade perante os humanos da Superfície, remete a invisibilidade simbólica e material da classe operária, dos pobres na visão burguesa, capitalista.  
Não é permitido o descanso, o prazer aos humanos do Mundo Inferior, sintetizando a exploração humana, quem trabalha para produzir a abundancia para poucos, enquanto sobrevive com quase nada.

O conceito e execução da obra são de autoria dos acadêmicos Lucas Men Benatti, Odonias Souza de Santos Junior e Rafael Carvalho de Almeida.


Pólis vivia no submundo das cidades. Era filho dos Escondidos, aqueles que nunca deveriam submergir de suas deficiências as quais lhe lançaram. No mundo acima, a grande maioria não sabia de suas existências... Não imaginavam que abaixo de teus pés haviam seres humanos. Que pisavam sobre a carne viva de outros homens. Poucos eram os membros do Governo que também conheciam suas existências.
Eram a força oculta que sustentava todo o progresso. Todas as máquinas e tecnologias existiam por um objetivo e só existiam por uma força humana. Ali, entre a escuridão e o calor industrial a vida da superfície era criada, era moldada... Do câncer e da esquizofrenia dava-se a luz a perfeição.
Era no submundo que o passado dos homens se fazia presente na clandestinidade... Ali ainda se via e usavam papéis... Ali ainda haviam restos materiais de uma civilização que não mais existia... No atraso se construía o futuro. Ainda assim, o passado era proibido... A história do que se foi não deveria ser lembrada por ninguém... O Novo Mundo, a história dos homens dera início com a revolução dos governos... Não muito se sabe... Tudo o que se diz é que, do caos e do medo, o Governador criou a luz e a esperança no mundo...


As luzes vermelhas e o alarme de aviso gritavam sobre o corpo estendido de Pólis.  O tempo que lhe era permitido dormir já havia se esgotado. Devia retornar ao seu posto de trabalho. Olhou pelo vidro embaçado da sua cabine. Uma fila de operários aguardavam pelo seu momento de descanso do lado de fora. Humanos, não-humanos.
Rapidamente levantou-se. A idade não lhe era certa. Nem saberia se tinha uma vida ou se vivia. O cansaço consumia teu corpo. Mirou teu reflexo em uma placa de metal na parede. Sempre estivera assim. Todos sempre estiveram assim... Como saberiam se era cansaço ou condição humana da existência?
Pólis caminhava entre homens e mulheres sujos e fedidos. As luzes lhe queimavam os olhos. Tudo ali era desgraça... Mas não conseguia imaginar como poderia ser diferente... Às vezes pegava a devanear em algum breve momento de fraca esperança... Recordava-se do que um dia, um velho havia lhe dito enquanto engolia o vomito que lhe serviam...
- Uma vez eu encontrei um livro... – o velho diminuiu o tom de voz. Estavam sentados um ao lado do outro, em uma fileira interminável de criaturas que também se alimentavam – Eu sei ler! Sabe, eu não sou daqui... Não fazia parte da tecnologia bruta... Fazíamos coisas pequenas de onde eu era... E eles nos ensinaram a ler... Precisávamos ler para fazer o que nos pediam... Então um dia eu o encontrei... Estavam nas coisas de um outro cara na verdade e eu o roubei para mim... Não consegui ler tudo. Antes disso, eles me pegaram... Mas eu me lembro muito bem do que dizia...
Silêncio. Apenas o barulho dos comedores famintos. O velho engolia sua pasta. Era como se houvesse esquecido do que havia dito... Pólis desejava saber mais... Desejava saber o que estava escrito...
- O que o livro dizia? – sussurrou temendo ser ouvido pelos outros.
- Ah sim... Esse mundo que vivemos, esse lugar aqui... É passageiro... Acima de nós existe um novo mundo, um mundo perfeito... O livro me revelou isso... Vivemos no Mundo Sublunar, é essa merda aqui onde estamos! Esse é o nosso mundo! Mundo vazio, da violência, da corrupção, da transitoriedade... Mas acima de nós existe um outro mundo...
- Não acredito que exista algo além...
- Eu acredito! E ainda chegarei até ele... O Mundo Supralunar, o mundo cheio e perfeito... Conhecerei a quinta essência... E um céu de astros e estrelas fixas...


Ele não sabia bem ao certo. Na verdade suas lembranças se embasam na mente, as coisas se tornam foscas e confusas. Todo mundo segue em fila. Todos seguem em ordem. São reféns dos números que os identificam. São reféns de cabos e de artimanhas de longas datas. De tempos de onde não se viam os males. De um tempo que escorria em azul sobre o céu. Seu céu é metal e cinzas. É ferrugem e frio. Cabos de luz amarelas.  Somente...
Pólis engoliu o fel que regurgitava. Refluxo. Fluxo de lixo.
Todos os dias a mesma tarefa. Todo momento as mesmas sensações. O que realmente sentia? O que realmente lhe tocava a pele? Não sabia se gostava. Não sabia que odiava. Só sabia não saber.

PARA BAIXAR O ARQUIVO COMPLETO COPIE E COLE O LINK ABAIXO EM SEU NAVEGADOR

https://drive.google.com/file/d/0BzFdeFwaqktNZ3pnZ3BoMm4tbGc/view?usp=sharing

Nenhum comentário:

Postar um comentário