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domingo, 12 de fevereiro de 2017

TADUS: Capítulo 02


O Mundo Superior, explorado em algumas nuances no Capítulo 02, apresenta a máxima burguesa de consumo, “progresso”e avanços tecnológicos. Os humanos da Superfície não precisam trabalhar, não precisam produzir e por isso seu tempo de vida é gasto com o prazer, com a satisfação de seus desejos. O Capítulo 02 expõe as frígidas relações líquidas pós-modernas, o vício da experiência, a efemeridade dos fenômenos, o descarte, a ausência de laços permanentes.  Também são exploradas as tenções, as posições de poder entre sujeitos e classes e seus movimentos de resistência. Declara sobre a mídia como aparato de controle do Estado, manipuladora de informações assim como, crítica as ideologias e governos autoritários e de repressão.

O conceito e execução da obra são de autoria dos acadêmicos Lucas Men Benatti, Odonias Souza de Santos Junior e Rafael Carvalho de Almeida.


CAPITAL, 20 PM

Enquanto assistia a tevê ouvi de sua boca que estava apaixonado por mim. Aquelas palavras soaram estranhas aos meus ouvidos. Reparei no buço que salpicava sua pele acima da boca. Era um demente. Apenas acenei com a cabeça, mas qualquer coisa naquele quarto era mais interessante que ele. Eu o olhava fixamente, mas era o meu reflexo que admirava em seus olhos inebriados pelas drogas. Era para mim mesma que acenava a cabeça. Deixei que ele tivesse seu prazer, que entrasse em mim. Sabia que era apenas o começo do mais amargo gozo jovial da iniciação. E minha buceta o engolia, não dava a mínima para o que ele fazia, fiquei parada assistindo o jornal.
- Um senhor de 50 anos foi repreendido na noite de ontem por um integrante de alto escalão dos Servos. O homem cuja identidade não foi revelada pela organização, foi torturado, morto e seus restos mortais jogados na Avenida 72.  Ele teria sido executado, segundo nota oficial dos Servos, por suposto envolvimento com o grupo extremista do terrorista Balzare, conhecido internacionalmente por difamar e atentar contra o Governo, distribuindo ilegalmente exemplares de um livro, cujo titulo impronunciável, dizia trazer a verdade aos homens. Balzare também é conhecido por incitar atos de violência na população e pelos já conhecidos ataques a prédios e órgãos públicos de defesa aos cidadãos. Com a palavra o Servo que liderou a operação. Boa noite sargento Maltês, o senhor poderia nos fornecer mais informações a despeito deste caso?
Senti sua respiração mais ofegante e o jato quente dentro de mim. Já havia acabado. Parecia uma massa amorfa encima de mim. Perguntei se havia gostado, mas não obtive nenhuma resposta, o idiota não conseguia falar. Sorri para mim mesma.
– Boa noite Cristine. Bem, eu gostaria de aproveitar o momento para tranquilizar toda a população que está nos assistindo e dizer que a situação já está sob controle. A operação fez parte das investigações que já vinham ocorrendo a algum tempo e que buscam erradicar o terrorismo, num esforço conjunto entre as administrações do Governo. Esse senhor, que preferimos não divulgar o nome, por temermos o comprometimento em nossas investigações, já estava sendo observado a algum tempo e a ação ocorreu como um ato preventivo. Como vocês podem ver nas imagens, a tortura foi empregada de forma bem direta e concisa, sem represálias. Durante a operação também apreendemos aparelhos de comunicação, que provavelmente estavam sendo utilizados para interlocução entre os membros da Tadus. Gostaria de ressaltar, enquanto representante do Governo, que tudo está sobre controle e estamos trabalhando para manter a população segura...


Empurrei seu corpo flácido de cima de mim e me levantei. Precisava ir e precisava do meu dinheiro. Peguei rapidamente minhas roupas no chão e me vesti. Fazia frio lá fora. Nevava no deserto.
- Anda cara levanta! Preciso ir embora, onde está meu dinheiro?
            Ele se contorceu na cama para me encarar. Não me atentei a sua aparência. Aquilo não me importava.
            - Mas já precisa ir? Fica mais um pouco... Foi tão gostoso brincar com você – Ele balbuciava, as palavras saiam enroladas de sua boca. Não sabia se era efeito das drogas ou do sexo. Quem sabe de ambas as coisas.
            - Está na minha hora... Se quiser volto outro dia, a gente combina. Onde está seu smart? Transfere o dinheiro pra mim...
            Pegou seu aparelho do chão, deu alguns toques na tela para executar o pagamento.
            - Feito. – Disse ele voltando-se a deitar. Olhei meu smart, a notificação do pagamento chegou na hora. Tinha mais 200 moedas no meu bolso agora. Não precisa, mas gostava do que fazia. Olhei para a tela grande da tevê pela ultima vez, tinha sido minha melhor companheira nessas duas ultimas horas trancada com esse adolescente. A imagem do Governador estava em destaque, belo, discursava com sua voz doce e potente.
– Estamos trabalhando para que toda a população de bem não sofra na mão de uma minoria rebelde que planta o caos e a desordem em nosso mundo. As investigações seguem e a luta contra os terroristas também. Depois da morte desse possível integrante do grupo terrorista de Balzare, reforçamos a nossa guarda de Servos em toda a Capital, e estamos implantando unidades de monitoramento em todos os nossos domínios. Uma precaução caso haja alguma tentativa de retaliação por integrantes do grupo...
Saí daquele mundo que não me pertencia e fui para as ruas.


Vaguei sem rumo, mesmo sabendo que devia ir para a Estação. Estava no centro da Capital, não era sempre que atendia alguém ali, as pessoas do Centro, sabiam de onde ela vinha, a reconheciam e corria o risco de ter que trepar com um dos amigos de seu pai.
Todas as principais Avenidas eram preenchidas por prédios mais altos que as nuvens e que brilhavam mais que diamantes. As ruas eram limpas e de metal, por meio da qual os carros flutuavam. O movimento era intenso. Havia muitas pessoas. Elas corriam de e para todos os lados. Com seus penteados e roupas exuberantes. Gostavam da luxuria. A grande maioria passava por mim sem dar a mínima atenção. Não sabiam que eu estava ali. Estavam perdidos em seu mundo. Em seus smarts. O Governador providenciou tudo. Ele criou o progresso. Ele moldou o mundo a sua vontade. E o fez assim em sete dias. A última maravilha a ser construída, terminada apenas no ultimo dia, foi o Prédio do Governo. Imponência não faz jus a sua grandeza, nem adjetivo nenhum a sua beleza e exuberância.  Ele era mais e maior que qualquer adjetivo inventado. Indescritível. Inimaginável. Irreal. Surreal. Real. Era a grande joia da coroa e por isso cercado, protegido e vigiado pelos olhos das máquinas e pelos inquietos desconfiavam de todos.
O fluxo de carros luxuosos aumentava a cada instante ao redor do Prédio do Governo. Homens e mulheres vestidos de fama, dinheiro e corrupção eram escoltados até a porta de entrada. Alguém havia fugido da prisão. Um rebelde, diziam. O Governador não via motivos para se preocupar, mas também não baixaria a guarda...
Entrei em meu carro. Conectei meu smart em seu painel de comando. Todas as coordenadas estavam ali. Não precisava fazer mais nada. A velocidade seria sempre constante. Sempre a mesma. Nunca erraria seu trajeto. Nenhum acidente jamais ocorreria. Tudo era perfeito... e melancólico.


Os prédios passavam sobre minha visão. Corriam... Corriam sem se mover... E eu deixava todos para trás... Deixava os grandes prédios de espelho... As pessoas jovens e velhas que transitavam... Os ricos e os mais ricos ainda. Todos corriam sem se mover. E eu deixava todos para trás... Objetos tornavam-se borrões sem vida... Destorciam-se... Torciam-se... Moldavam-se... Remodelavam-se sem se importar o que pensariam... No céu frio e acinzentado nuvens de ferro que derramavam enxofre sobre a Capital, que desafiadora, esgueirava-se e impunha-se sem temer a nada.
Deixei-me sentir cidade... Deixei-me viver a cidade... Contemplei a face do Governador em um grande telão. Soberano do universo. Remodelara o mundo a sua vontade... Soberano exercia teu poder e autoridade.  O carro parou. Gritavam para mim os anúncios que outrora corriam parados. O Grande Governador! Mestre do homem e senhor da humanidade! Sorria e acenava. E todos que estavam a sua volta desejavam glórias e vida eterna. O homem que enganou a morte, diziam. O homem que matou a morte, diziam. O homem que controla o tempo, diziam. Ponderei sobre o tempo. Inapreensível. Incompreensível. Tantas formas de medi-lo foram criadas pelos homens... Mas nenhuma regra parecia-me dar conta de sua totalidade... Tempo. Duração. Medir o tempo pela vida. Quanto tempo vivemos mesmo? De tempos remotos tantas foram às concepções adotadas pelos homens... Falhas? Desvios? Pensou naqueles que vivem abaixo da terra. Sabia deles... Sabia que abaixo de seus pés havia vida... Eram como insetos. Pobres coitados... Talvez fosse melhor permanecerem no subsolo mesmo... Cigarras passam sete anos enterradas... Quando conseguem vir à superfície e viver, sair de sua casca... Morrem em menos de um mês... Sete anos para um mês...


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