Hoje falaremos sobre um artista contemporâneo, cujo trabalho artístico foge da representação pictórica, tal como já vimos nas obras de arte renascentistas aqui apresentadas, porém mantém a fusão entre arte e ciência como foco do trabalho. Estamos falando de José Wagner Garcia, artista nascido em 1956 em São Paulo. Arquiteto, semioticista, space artist (termo geral para a arte emergente do conhecimento e ideias associadas com o espaço exterior, tanto como fonte de inspiração quanto um meio de visualizar e promover as viagens espaciais.) e genetic designer, trabalha nas áreas de arquitetura em aço e das relações entre arte e sistemas vivos.
Garcia é pesquisador associado do Center for Advanced Visual Studies (CAVS), e Media Lab do Massachusetts Institut of Technologie (MIT), USA. Mestre pelo MIT com dissertação sobre sistemas vivos, desenvolveu seu projeto de doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), no programa de comunicação e semiótica, sobre o tema estética evolucionária. Tem participado dos principais eventos ligados à arte-comunicação e interação entre arte-ciência-tecnologia do país, bem como da exposição Precursor e Pioneiros Contemporâneos, no Paço das Artes, São Paulo, em 1997, na qual apresenta o trabalho Light Automata, instalação que envolve holografia de imagem de síntese e bioluminescência.
Nos anos 90, colaborou em um projeto chamado Escola Futuro, no qual defende o uso de softwares dentro de sala de aula, os quais permitem a integração de texto, imagens, sons e fotos, comandados por um microcomputador, visando uma melhor interação do aluno com o conteúdo através destes suplementos para docentes acostumados com vídeo-games e videoclipes. O pesquisador diz que "Escola do Futuro não é tecnologia de ponta dentro da sala de aula, e sim o preparo das crianças para viver no futuro" e complementa "Existem experiências de mundo que o computador não resolve. No computador pode-se pintar uma linha, mas a criança não pode ser privada da experiência de passar um pincel com tinta sobre o papel.".
No mesmo período o arquiteto realizou tais obras: “Amazin Amazon”, “Angel5”, “Distúrbio”, “Pele da Imagem”, “Ópera Digital”, “An atribute – value representation for a family of fractal images”, “Wet Ware” e “11,23”. Em 2000, Garcia realizou as obras “Baxel – bio art”, “Ladrão de Ritmos”, “Arte e Senso Comum”, “Faixa de Gaza” e “Nanoilusão”.
SKY ART
Trabalhando com um satélite em movimento aqui no Brasil, em 1989 o artista José Wagner Garcia cria uma trilogia de obras: Sky and Life, Sky and Body e Sky and Mind.
Se valendo de três diferentes modalidades de captura de sinais, Garcia trabalha em Sky and Life capturando sinais de estrelas tipo G5 (características semelhantes as do sol). Essas imagens eram interpretadas por ele como possíveis mensagens do espaço para a Terra. Esses dados coletados eram convertidos em imagens fractais, que eram devolvidos ao espaço como uma forma de resposta. Em Sky and Body, a idéia era capturar as imagens da terra a partir do espaço, utilizando um balão estratosférico do instituto nacional de pesquisas espaciais (INPE). Foi instalada no balão uma câmera de slow-scan TV acoplada a uma câmera de vídeo que gravava imagens durante sua subida, posteriormente, o slow-scan converteria as imagens em impulsos de som para serem enviadas à Terra, onde seria novamente convertida em imagem. Já em Sky and Mind, cuja inspiração foram as famosas linhas de Nazca, o artista, desenhou no solo os trigramas do I-Ching, aproveitando o sistema de irrigação de uma fazenda em Barretos, em uma escala possíveis de ser vista do espaço cósmico, compatível com a resolução dos sensores orbitais utilizados, que fotografaram seu trabalho a 800 quilômetros de altura pelo satélite Landsat 5-TM, quando só então se torna legível. Nesta obra o artista respeitou o ciclo natural da plantação, separando a palha e com elas inscrevendo, com a ajuda de tratores, os trigramas Chien (Céu) e Chen (Trovão).
Garcia é responsável pela primeira, e até agora única, experiência com Sky Art no Brasil, e sobre seu trabalho, pode-se dizer que é uma espécie de resposta anárquica ao à Iniciativa de Defesa Estratégica, também conhecida como Projeto Guerra nas Estrelas, em franca discussão na época de sua feitura, que consistia em pesquisas pagas pelo governo dos Estados Unidos para cientistas e militares pesquisarem sistemas de rastreamento no espaço e antibalísticos.
AMAZING AMAZON
José Wagner Garcia é um criador em novas mídias que se pode considerar radical, não se trata de mais um parnasiano high-tech, desses que se satisfaz em criar sistemas inacessíveis e desprovidos de conceitos. Pelo contrário, Garcia é um investigador acima de qualquer suspeita, justifica e racionaliza cada um dos programas, ações e parâmetros que utiliza. Foi assim que trabalhou, nos anos 80, quando atualizou a Land Art (na qual o terreno natural é trabalhado para que seja a obra) para a escala dos satélites, hibridizando a astrofísica e a arte, o que o levou a compor “Amazing Amazon”, em parceria com a Petrobrás, o MIT e a Nasa.
Em um projeto complexo, “Amazing Amazon” chegou a resultados que puderam ser confrontados na exposição que ocupa a sala Paulo Figueiredo, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em um auditório inflável implantado no parque do Ibirapuera. Para tanto, utiliza interfaces on line, imagens de satélite que retratam o rio Amazonas em 1992, atualmente expostos na sala do museu, mais um sistema de projeção em 10 telas distintas que ocupam um espaço circular, o auditório inflável, em que se é convidado a assistir as imagens deitado. Tudo isso é feito para que os visitantes da mostra participem (ou contemplem?) do objetivo central do projeto: “Tratar o rio Amazonas como uma escultura geológica, estabelecendo uma estética de sua morfogênese”.
Percorremos os 7 mil quilômetros das águas amazônicas em imagens videográficas aéreas, terrestres e processadas por satélites como JERS-1, que fazem parte de projetos internacionais de mapeamento dos recursos naturais e são utilizados para finalidades diversas, como, por exemplo, controle de cheias. Wagner desfaz as compartimentações que permitiam diferenciar campos disciplinares científicos e artísticos, reconfigurando as funcionalidades desses mapeamentos. A natureza não é só representação, mas mediação, como afirma o próprio artista.
Para saber mais sobre o artista e seu trabalho, recomendamos seu artigo escrito para a Folha de S. Paulo sobre arte biológica e tecnologia:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2008200008.ht
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2008200008.ht
REFERENCIAS:
http://www.cibercultura.org.br/tikiwiki/tiki-index.php?page=Jos%C3%A9+Wagner+Garcia
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