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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Arte e ciência: uma velha paixão

    Olá caros leitores. Novamente estamos aqui para tratar de uma matéria produtiva, sobre a qual falamos anteriormente, a releitura.
    Em propósito proveitoso de estarmos trabalhando de maneira disciplinar este tema, a trouxemos para a prática, entregando o eixo central de nossos trabalhos deste blog, que é a relação de amor quase sexual entre arte e ciência, realizamos, como um grupo de colegas já aqui o fez, releituras de obras que tratam deste romance. Uma delas é a mesma imagem utilizada pelo grupo citado: "An Experiment on a Bird in the Air Pump" (1768), do artista inglês Joseph Wright of Derby. A outra foi "The ambassadors" (1553) de Hans Holbein, o Jovem, pintor alemão.
     Nestas (re)apresentações buscamos retrabalhar a forma através de uma linguagem alternativa à pintura, a fotografia. Realizamos as composições durante um nossos encontro letivo semanal da disciplina de Arte-ciência: diálogos interdisciplinares I, no curso de Artes visuais, na Universidade Estadual de Maringá, quando dispúnhamos de uma série de instrumentos científicos emprestados pelo professor Marcos César Danhoni Neves, o Velho, astrofísico brasileiro. Discutimos sobre tais instrumentos, pois eles fariam (importante) parte de nossa composição. Nas obras de arte que tivemos como referências, alguns destes mesmos objetos científicos aparecem na representação pictórica, já evidenciando o interesse dos artistas pela famigerada relação. Reconstruindo as cenas, pensamos que podemos (re)trabalhar o diálogo com as matérias tomadas pelos artistas citados, trazendo para o imaginário da atualidade o que havia sido pensado por eles neste não-distante-passado.
     Sendo assim, nossas releituras têm por objeto o diálogo interdisciplinar entre arte e ciência, e buscamos trazer para elas, um pouco da intencionalidade de Wright e Holbein.
     Passemos a uma breve descrição de algumas concepções e de alguns dos objetos utilizados:

     Utilizamos na releitura da obra "An Experiment on a Bird in the Air Pump", uma lente de fresnel e uma esfera de plasma. As duas ferramentas e o personagem do cientista foram utilizadas para dizer outro algo sobre o algo representado na pintura apenas pelo cientista e a bomba de ar. Na obra original, o cientista olha diretamente e entusiasmadamente para o espectador, no ápice de sua performance de poder sobre a vida do pássaro que se encontra agonizante dentro da capsula de vidro, e da confirmação de uma teoria de que onde existe vida não existe o nada, ou onde o vácuo esta presente não se pode haver algo, apenas o nada. A diferença da releitura para a obra lida por ela é que ao invés de o cientista segurar a bomba de ar e quase que como perguntar ao expectador o que fazer, deixar que o animal viva, ou provar até as últimas consequências que sua teoria é verídica, na releitura o cientista não da enfase no expectador mas sim na esfera de plasma, que é, na composição o que representa o vácuo, enquanto na outra extremidade segurando pela mão a lente de fresnel a cacatua representada pela união de duas mãos foge do que seria cápsula de vidro, lembrada pela circunferência moldada no material que a lente se compõe   A lente de Fresnel foi criada para o uso em faróis marítimos, possuindo várias medidas focais, pelo francês Augustin Jean-Fresnel com desenho que possibilita a construção de lentes de grande abertura e curta distância focal sem o peso e volume do material que seriam necessários a uma lente convencional e também mais finas permitindo maior passagem de luz através dela, e foi, posteriormente, tomada por vários outros objetos cotidianos desde faróis de carros, semáforos até câmeras de captura de imagem. A esfera de plasma foi utilizada nas duas releituras, ela é um aparelho que contém uma bola de vidro com ar a baixa pressão e uma esfera metálica no centro ligada a uma alta tensão alternada, de alta frequência e alta tensão. Formando um campo elétrico dentro da bola acelerando os elétrons livres que colidem com os átomos de gás e provocam a ionização, liberando mais elétrons, estes também serão acelerados, ocorrendo uma descarga elétrica no gás, a cor aparece por causa do gás que está dentro da bola de vidro. O foco representado nesse recorte da releitura não é a vida do pássaro mas sim o esplendor do experimento acima de tudo.


     Em ambas as releituras, dentre os objetos dispostos sobre a mesa, estava uma bússola. A bússola é um dos dispositivos de maior relevância surgidos na história, tendo grande importância para o desenvolvimento das civilizações no século XVI, com o período das grandes navegações. Este é um objeto utilizado para orientação geográfica, pois fornece uma direção de referência por meio de um ponteiro (chamado de agulha) magnetizado que, atraído pelo pólo sul magnético do planeta (em razão da grande quantidade de ferro derretido no interior da Terra, que funciona como um imã e atrai a agulha magnetizada), indica aproximadamente o Norte geográfico. Estudiosos acreditam que os chineses foram os primeiros a explorar este fenômeno da magnetização. A bússola atual é uma caixinha circular (chamada de cápsula) de material transparente, onde a agulha encontra-se equilibrada sobre um pino e tem livre movimento horizontal, permitindo que dê voltas de 360 graus, e o interior da cápsula está cheio de um líquido viscoso, destinado a diminuir a "tremedeira" da agulha. A presença de certos minerais no solo podem alterar a indicação da agulha magnetizada, que sofrerá influência desses objetos, não oferecendo uma orientação precisa – esse fenômeno é chamado de declinação magnética.

    No período em que é produzida a obra de Holbein, se passa uma grande revolução científica: o rompimento da concepção ptolomaica de mundo. A  teoria de Ptolomeu era baseada  num modelo universal em que a Terra era o centro dos cosmos, circundado por oito esferas celestes: a Lua, o Sol, as estrelas e outros planetas. (Sol e Lua) eram chamados de planetas, estes eram esferas giratórias de cristal imaginárias. De acordo com a teoria de Ptolomeu, cada planeta tem movimento epiciclo e se movem ao redor do Terra que é estacionária e se encontra no centro do Universo. Os corpos não se movem em órbitas circulares, em determinados  pontos parece deter-se ou inverter seu movimento  e finalmente se  mover  na direção primitiva. Esses movimentos são conhecidos como retrógrado devido aos movimentos da Terra e de outros planetas ter velocidades diferentes em órbitas concêntricas e circulares. Para explicar o fenômeno, Ptolomeu elaborou um sistema em que os planetas  estavam fixados sobre as esferas concêntricas de cristal, presididas pela esfera das  estrelas, todas girando em velocidades  diferentes. O movimento retrógrado e as paradas dos planetas segundo Ptolomeu, tem como causa,  o movimento epíciclo: cada um deles  girava em um círculo (os epiciclos) sobre um esfera menor, cujo centro , se situava sobre um esfera maior. Assim enchendo  o céu de rodas- gigantes. Esta concepção dá lugar ao entendimento galileano de cosmos, a partir da publicação por Galileu, de uma série de tratados sobre astronomia.

     Um planisfério é uma carta ou mapa que representa em um mesmo plano os dois hemisférios terrestres. Para se vê a aparência do céu visível em um determinado lugar depende da hora do dia, da época do ano e da latitude do lugar. O planisfério combina em um único dispositivo as cartas celestes de um ano inteiro para uma determinada latitude.   Coberto por uma máscara que deixa à mostra apenas o céu visível de um determinado lugar, hora e época do ano. Girando a cobertura, pode-se ver como varia a aparência do céu visível nesse lugar com o passar do tempo. Os planisférios mostram as estrelas mais brilhantes do céu, a lua, o Sol excluindo os planetas devido o rápido deslocamento em relação às estrelas, por isso para ver a aparência do céu noturno depende da hora do dia e da data. Devido ao movimento de rotação da Terra os astros que são visíveis em um determinado lugar mudam de posição, à medida que a terra gira em torno do sol muda a posição do sol entre as estrelas e, consequentemente, muda a parte do céu que está acima do horizonte durante a noite, ao passo que também não pode ser usado em qualquer latitude, pois o eixo de rotação da terra tem uma orientação fixa, quando gira em torno desse eixo, de oeste para leste, as estrelas se movem, de leste para oeste, em trajetórias paralelas ao equador. O tamanho das  trajetórias diurnas das estrelas, assim como sua orientação  em relação ao horizonte,   depende da posição da estrela no céu e da latitude do observador na Terra. O planisfério é um dos objetos presentes na obra, Os embaixadores do pintor Hans Holbein, na parte superior do móvel que fazem referência à circunavegação e às grandes descobertas de novos continentes. Na releitura é uma versão atual em papel de um instrumento muito usado no passado, que ainda pode ser usado hoje para orientação cartográfica.

     O relógio solar, que também pode ser chamado de gnômon, corresponde e um método ou procedimento para medir a sucessão das horas ou do tempo por meio da visualização do modo como a luz solar incide na terra em diferentes posições, ou seja, quando a sombra estiver bem longa é o amanhecer; ao meio-dia, se apresenta em seu tamanho mínimo, voltando-se a alongar-se ao entardecer é justamente essa variação que fornece as horas.O relógio solar deve ser alinhado com o eixo de rotação da Terra, para que produza uma medição precisa da hora correta. Na maioria dos estilos de relógio, ele precisa ser apontado em direção do norte verdadeiro (ao invés do magnético), ou seja, o ângulo horizontal precisa ser igual à latitude geográfica da posição em que está localizado o relógio de Sol. Os primeiros registros de incidência relógio solar foram através dos povos babilônicos e egípcios; este relógio também foi muito prestigiado entre os romanos, pelos árabes, depois para Europa. Onde o francês Jean Jacques Sedillot publica em 1854 o Traité des instruments astronomiques árabes, baseado nos manuscritos de Al-Marrakushi, datadas de 1280, onde foram descritos seis deferentes tipos de relógios e sol portáteis e treze fixos, entre horizontais, verticais diretos e declinados, cilíndricos e hemisféricos. Apesar de ser uma tecnologia antiga, o relógio de sol é utilizado nos dias de hoje em praias e áreas abertas.

     De acordo com Sotto et al. (2008), anamorfose corresponde à representação de uma figura que, quando observada frontalmente, parece distorcida ou mesmo irreconhecível, tornando-se legível quando vista de um determinado ângulo. Na etimologia, anamorphosis, em grego, corresponde à ‘formado novamente’. Pensar a origem da técnica da anamorfose incute pensar os construtos expressivos nas artes do Renascimento, mais precisamente, na simbiose artístico/científica que culminou na representação da profundidade em suporte bidimensional, ou seja, a perspectiva. Sem a consciência da representação em perspectiva, seria impossível a realização das traquinagens ópticas por meio das anamorfoses, uma cúpula de mentira no topo de uma igreja, a lua sob a santa, vales com cachoeiras em plena Wall Street, slogans “em relevo” no campo de futebol. Tais jogatinas do olhar, foram produzidas com cunho intencional/subjetivo que extrapola a vontade de representação do real, supera a vontade de realidade e perfeccionismo. Estão ali como assinaturas. É o que se diz sobre a obra de Holbein (1533), “Os Embaixadores”,  o crânio anamorfizado no chão entre os personagens, carrega um incômodo ao olhar, uma mancha sobre uma representação tão realística. Para alguns a representação do crânio no quadro é a assinatura de Holbein, já que que seu nome em alemão significa “osso vazio”. Segundo Sotto et al. (2008) o quadro de Holbein foi posicionado no topo da escada de um castelo , somente enquanto subia-se a escada tinha-se a visão de um crânio, assim que se chegava ao topo a caveira não era vista. O que carrega a intencionalidade do artista ainda é a perspectiva, pois, no esforço para enxergar a realidade representativa do crânio, o que se distorce é o quadro em sua totalidade. Para a releitura “Os abaixadores”, realizada pela turma de Artes Visuais/UEM, o objeto responsável pela representação do crânio de Holbein foi um tablet, onde se utilizou um programa que faz anamorfoses. A técnica da anamorfose não é fácil, exige bons conhecimentos tem perspectiva,  desenho, geometria, raciocínio espacial. Mas os avanços computacionais permitem a disseminação da técnica, tanto que simplifica ou automatiza sua aplicação. Na atualidade, a consciência social das anamorfoses está tão difundida que a inquietação em relação às ‘manchas’ nas imagens do real já não existe, no máximo estimulam o riso, já a tentativa de encontrar a realidade do entorno anamorfizado em função de um único ângulo de observação se mantêm como vício da humanidade.

     Incorporados à composição estão, ainda, livros de astronomia, os quais nos permitem a compreensão do funcionamento de outros elementos presentes na releitura, bem como na obra original de Holbein, na qual os livros encontram-se abertos, com seu conteúdo à vista, oferecendo o pensamento ao observador; o conhecimento astronômico presente nos livros se dá de suma importância em vista da localização do tempo e do espaço. Alguns livros presentes na releitura continham visualização com óculo 3D, que nos permitia a noção de profundidade de imagens astronômicas tiradas via satélite, a tecnologia 3D possibilita uma ilusão que gera a noção tátil da imagem observada, o que amplia a experiência tridimensional de forma imersiva.


Os abaixadores (2013)

Experimento de uma bomba de energia (2013)


    Na releitura "Os abaixadores", brincando com palavras, não nos esquecemos dos instrumentos científicos, da "anamorfose", representada por uma distorção gerada por um aplicativo em um tablet, e nem do Cristo crucificado coberto por cortinas.
    Em "Experimento de uma bomba de energia", buscamos trabalhar a "teatralidade" de maneira um pouco mais fiel à obra, alterando a bomba de ar por um objeto que também é composto de vácuo, a esfera de plasma. O senhor do meio na obra original, provavelmente o executor do experimento foi representado pelo André, mais ao lado outro senhor apontando e parecendo tentar acalmar a menina, talvez podendo ser o pai dela, foi representado por Pedro, a menina com os olhos cobertos por sua mão na  original e na releitura coberta com as mãos é Angélica e a criança no centro mais a direita na obra de Derby, e na releitura mais no centro esquerdo onde a luz aparece com mais intensidade é Fabiane. O casal mais ao lado esquerdo olhando um para o outro, na releitura são Maria e Antônio, o homem pensativo focado no experimento na figura original, no nossa representação é Thereza, o menino ao fundo abrindo a cortina foi representado por Felipe. Voltando a esquerda temos mais dois senhores sentados a frente do casal, o que esta mais a frente no primeiro plano foi representado por Ana, e o que se encontra mais atras, Josiane; e na releitura da obra, adicionamos mais um personagem Érica, entre Pedro e Thereza.



REFERÊNCIAS


BRASILESCOLA. Bússola. Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/bussola.htm. Acesso em: 24/04/2013.

______. Relógio de sol.  Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/relogio-sol.htm. Acesso em: 24/04/2013.

CARTOGRAFIA. Bússola. Disponível em: http://www.cartografia.eng.br/artigos/bussola.php. Acesso em: 24/04/2013.

USP, Estação ciência. Exposição. Disponível em: http://www.eciencia.usp.br/exposicao/eletro.html. Acesso em: 24/04/2013.

FISICA-GRAVITACAO. As Esferas Celestes. Disponível em: http://fisica-gravitacao.blogspot.com.br/2010/01/as-esferas-celestes.html. Acesso em: 24/04/2013.

SOTTO et. al. Anamorfoses: origens e atualidades. Congresso Brasileiro de Pesquisa em Design. São Paulo: 2008. Disponível em: http://www.modavestuario.com/356anamorfoseorigenseatualidades.pdf. Acesso em: 24/04/2013.

UFRGS, Instituto de Física. Planisfério. Desponivel em: http://www.if.ufrgs.br/~fatima/planisferio/Planisfe.htm. Acesso em: 24/04/2013.

WIKIPEDIA. Lente de Fresnel. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lente_de_Fresnel. Acesso em: 24/04/2013.


Obras referência:















Hans Holbein, o Jovem.
The ambassadors, Jean de Dinteville and Georges de Selve. 1553.
National Gallery, Londres, Inglaterra.









Joseph Wright of Derby.
An Experiment on a Bird in the Air Pump. 1768.
National Gallery, Londres, Inglaterra.




Outras fontes:

http://relogiosdesol.blogspot.com.br/2008/11/um-pouco-de-histria-sculo-xix-at-os.html
http://profalexandregangorra.blogspot.com.br/2008/03/o-relgio-solar.html
http://www.infoescola.com/curiosidades/relogio-de-sol/
http://www.relogiosol.com/historia.php.htm
http://www.feiradeciencias.com.br/sala03/03_06.asp




AUTORES: Ana Paula Umbelino, Beatriz Mendes, D.X. (André Onishi), Antônio Almeida Junior, Maria Giulia Pinel, Josiane Bertolleti, Pedro Cavallari, Thereza Aguitoni, Felipe Franco Tomazella, Aletheia Alves da Silva, Ingrid Tamanini, Érica Egea Goldolfo, Angélica Nardi e Fabiane Kitagawa.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Podemos

    Olá leitores. Aqui estamos novamente para reiterar nossa primeira publicação. Como vocês podem ver, se trata de uma imagem visual digital figurativa, a qual proporemos – conforme prometemos – alguns meios de leitura. Leitura? Sim, pois imagens podem ser lidas, tal como textos. Imagens visuais são configurações sígnicas, passiveis de decodificação, como fazemos quando relacionamos as palavras de um texto a um significado. Como este assunto dá pano para manga, passemos ao prometido, reservando esta matéria para futuras publicações.

    A imagem em questão chegou ao nosso conhecimento pelo meio mais rápido de divulgação, a internet, na qual maior parte da sociedade mundial tem acesso, onde artistas podem criar e recriar trabalhos e colocá-los á disposição de milhões de pessoas sem precisar de um espaço físico para sua exposição. Iremos analisar esta imagem pelos elementos visuais que a compõe, bem como pela sua importância dentro do contexto histórico no qual foi produzida. Além de explorar o conteúdo da imagem em si, devemos contextualizá-la histórica e socialmente de acordo com o momento no qual ela foi criada, a fim de compreendermos as motivações criativas envolvidas em sua produção. 
    Nossa imagem de autor anônimo trabalha um dos elementos da candidatura presidencial de Barack Obama nos Estados Unidos da América em meados de 2008. Neste período o país se encontrava em meio a uma recessão econômica mundial diante dos resultados da ineficiência das investidas militares no Afeganistão. É nesse cenário que Barack Obama concorre a presidência americana, criticando as políticas econômicas e militares internas e externas do então Presidente George W. Bush. Em sua campanha presidencial Obama utilizou um slogan simples, porém forte: Yes, we can! (Sim, nós podemos) que se tornou o hino e a motivação moral do povo americano. Há aqui a proposição de um diálogo ente o século XVI e a atualidade. O presente é evidenciado pelo próprio suporte da obra, de caráter digital, onde o uso de tecnologias como o computador, a maquina fotográfica, tablets, softwares de manipulação de imagens, entre outras mídias compõem um campo amplo de possibilidades para a expressão artística. E o passado pela figura icônica na história da humanidade, o artista italiano Leonardo da Vinci (1452-1519). Sobre esse contexto, sugerimos então, a América do Norte como local de produção da imagem e a figura do artista italiano como uma releitura do cenário político-econômica atual. O cartaz da campanha retrata o herói americano, um simples homem que tem como dever salvar a pátria. Podemos equiparar o homem polivalente da renascença que descobre a sua força no conhecimento e o primeiro presidente negro da maior potencia mundial que obtêm o poder de uma nação.
    Da Vinci foi um grande representante do Renascimento, período este que se destaca pelo renascer da consciência do homem para si mesmo, afastando-se dos pensamentos teocêntricos dominantes da Idade Media, onde o divino era o centro do universo e a razão do mundo. O homem então passa a se questionar sobre a natureza e sobre si mesmo, tentando compreender o mundo através do conhecimento empírico. Leonardo é uma compilação de arte e ciência em um único indivíduo, tendo sido pintor, inventor, engenheiro, arquiteto, escultor, anatomista, matemático e musico – ou seja, artista e cientista. Produziu em várias áreas como, por exemplo, na pintura – exemplos: La Gioconda[1], Leda, Dama do Arminho, Madonna Litta, Anunciação, A Última Ceia, Ginevra de Benci, São Jerônimo, Adoração dos Magos, Madona das Rochas, Retrato de Músico, São João Batista, Madona do Fuso, Leda e o Cisne –; na ciência com estudos de anatomia humana – estudos do tronco, dos membros, do olho, da embriologia e pregnância –; na arquitetura com projetos para cidades de níveis ideais, circulação de pessoas e carruagens, sistema de abastecimento e saneamento; na engenharia mecânica com protótipos de helicópteros, tanques de guerra, canhão de três canos, engenhos para mergulho submarino, máquinas voadoras, máquinas escavadoras, isqueiro, paraquedas, besta gigante sobre rodas, máquinas a vapor, pontes, calculadoras entre outros. Sendo assim, “Leo” é contemporaneamente considerado um grande gênio da humanidade.






    Por retrabalhar uma referência imagética existente, chamamos nossa imagem de releitura, pois estabelece uma possibilidade criativa variada em relação a uma produção anterior. Conforme Barbosa (2005), a releitura pode modificar a temática e manter a linguagem utilizada em uma obra, citar obras, se apropriar de imagens, entre outras atividades re-criativas. Entretanto, é importante ressaltar que releitura não e cópia, pois realiza o trabalho negativo da obra – pois não é a obra – retornando a ela em forma de referência, ou como o radical de uma palavra, presente em outra. 
    Na releitura em questão, um dos auto-retratos de Leonardo da Vinci é (re)apresentado por uma técnica de efeito visual que lembra o cartaz da campanha de Obama. Podemos identificar como elementos visuais da releitura a presença do artista enquanto personagem, a combinação das cores quentes e frias que remetem às da bandeira estadunidense (branco, vermelho e azul), e a utilização da linguagem escrita, onde lemos ART SCIENCE (Arte Ciência). A imagem também remete visualmente, a algumas produções de um movimento artístico da história da arte na pós-modernidade, a Pop Art. Na Pop Art – movimento que teve grande expressividade nos EUA e como principais expoentes os artistas norte-americanos Roy Lichenstein (Nova Iorque, 27 de outubro de 1923 — Nova Iorque, 29 de setembro de 1997) e Andy Warhol (Pittsburgh, 6 de agosto de 1928 — Nova Iorque, 22 de fevereiro de 1987) – tem entre suas características o jogo de luz e sombra, cores fortes, imagens que expressam crítica e ironia. Deste modo, em nossa releitura, poderíamos pensar, por meio disto, na presença de uma irônica crítica à cultura de massa, pela tentativa de realizar uma releitura a partir de uma imagem de caráter promocional, de divulgação política? Seria o mesmo tom irônico da Arte pop, presente nas Marilyns de Andy Warhol?
    O slogan presidencial (Yes, we can!) joga com a questão da afirmação de uma possibilidade desacreditada, onde a grande maioria dos eleitores norte-americanos encontrava-se descrente sobre sua nação: surge então, uma luz no fim do túnel, que seria o heróico candidato redentor Barack – um tanto “romântico” e “sugestivamente poético”, o caro leitor não acha? Pois é, a releitura da qual falamos também brinca, nos mesmos termos. Onde leríamos Yes, we can! temos as palavras “ART” e “SCIENCE” dispostas em uma convergência de 90 graus. Estaria sendo proposta a possibilidade de convergência entre estas disciplinas? Pelo que brevemente apresentamos sobre Leonardo da Vinci e sua obra, poderíamos pensar a utilização de sua imagem na releitura, como sendo a própria expressão da possibilidade da união pessoal entre arte e ciência. Haveria, de fato, essa possibilidade a qual aqui pensamos que da Vinci expressa? Esta, como é uma questão que já rendeu e ainda rende alguns milhares de páginas escritas em livros, dissertações e teses, fica a ser respondida pelo leitor, guiado por suas experiências (práticas e/ou teóricas) pessoais. Consideramos as leituras como abertas e diretamente relacionadas à experiência do receptor como diz Umberto Eco (2008), e “abertas” em vários graus e possibilidades.





REFERÊNCIAS


BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação contemporânea: Consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.

ECO, Umberto. Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2008.

GOMBRICH, Ernst Hans. História da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

LIESEN, Maurício. Navegando na ciberarte: notas sobre arte e imaginário na contemporaneidade. Revista Eletrônica de Ciências Sociais. N°8, março de 2005, pg. 71-94.

OSTROWER, Fayga. A Grandeza Humana: Cinco Séculos, Cinco Gênios da Arte". Rio de Janeiro: Editora Campus.




[1]Auge da técnica de pintura no Renascimento, contemplando chiaroscuro e perspectivacientífica.

domingo, 21 de abril de 2013

Narrativa musical do surgimento do Universo

Um dos mais interessantes exemplos em que a arte tangencia, com sua leitura poética, aspectos da ciência. A suite "O Caos", de Jean-Féry Rebel, expoente da música barroca francesa, discípulo de Jean-Baptiste Lully, é um dos movimentos da obra "Os Elementos". O cromatismo sonoro sui generis, ousado para o século XVIII, precede o advento do atonalismo schoenbergiano, tematizando a formação do Universo.
Segue uma brilhante interpretação:


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Análise de Imagem da releitura da obra "An experiment of a pump of air" (1768), de Joseph Wright of Derby


A imagem acima, foi nos proposto em aula que fizéssemos uma releitura teatral da obra "An experiment of a pump of air" (1768), do artista Joseph Wright of Derby. Os materiais disponíveis eram uma esfera de plasma, um chaveiro de pássaro, uma ampulheta, alguns livros, globos terrestres, relógios lunares, entre outros.

Decidimos colocar os materiais na mesa em certa disposição equivalente ao quadro e nos posicionamos de acordo com a obra: uma pessoa ficou mais ao fundo abrindo a cortina e os demais, mais a frente, faziam expressões de admiração, espanto ou curiosidade.

Destacamos, então, alguns elementos na composição para serem analisados:

A primeira imagem, é uma representação da cacatua da obra. Para isso, usamos um chaveiro de uma pequena coruja, que foi suspenso acima de um globo celeste como equivalência à bomba de ar.

A segunda imagem, mostra a abertura da cortina para a entrada da luz, sendo uma alusão ao fundo direito da obra de Joseph Wright, em que um garoto abre a cortina para que a luz do luar possa permitir uma visão melhor do experimento realizado, ao mesmo tempo, é um dos aspectos que demonstra que o artista faz parte da sociedade lunar. No nosso caso, utilizamos da luz solar para fazer parte do experimento artístico.

A terceira e última imagem, já representa a estante da obra "Os embaixadores" (1533), de Hans Holbein, em que aparecem uma elaborada coleção de instrumentos astronômicos e científicos que simbolizam o conhecimento.


Acima uma fotografia de uma releitura teatral da obra "An Experiment of a pump of air", do pintor inglês Joseph Wright of Derby.