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quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Desprogramando...


Caroline Ishizaki
Emilly Anselmo
Gabriela Ortado
Larissa Bellan
Letícia Azevedo
Vanessa Barbosa


      Corpos programáticos e óbvios re-produzem, impõem e nos inquerem um modo de ser sacralizado... Nos gestos mais desatentos nos desapropriamos de nós mesmos, mas em nome de quem? Por que nos aprisionam? Ser como vocês não os bastam... Continuamente barreiras são reafirmadas e erguidas. Modos de existir são ameaçados, senão aniquilados. Tolos, sempre haverá ruídos e estes ressoam insurgentes. 
      Tirem as suas expectativas de nós. Suas ameaças cotidianas não nos amedrontam mais, desejamos, desejamos sim, deformar e desembaraçar as suas amarras que nos moldam e castram. A cada falha, brecha, queremos experienciar, nos experienciar enquanto inapropriáveis e incompreensíveis ao seu ver instituído, retomando para si o direito de ser o que bem entendemos sem nos iludirmos com falsos acolhimentos. Somos muito mais do que um comercial ou capa de revista tardiamente "inclusivos" podem mostrar. A inclusão não existiria se não houvessem marcações definindo diferenças de modo a exaltar uma entre tantas outras. Por isso, cada um de nós, em cada segundo de existência resistiremos, pelos que se foram e pelos que ainda virão. Para não sermos atenuados, lembremo-nos sempre de nossa essência e lutemos, pois será preciso!





quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Os Ilustres Macacobôs: Uma etnografia do poder ao longo da história


Essa exposição foi pensada como um diálogo com nosso primeiro trabalho realizado na matéria de Arte e Ciências I, representando uma mostra de grandes figuras históricas provindas duma terrível distopia formulada por nós. Uma distopia que possui seus ciclos repetitivos de violência em movimentos análogos e sem fim. No mundo dos macacos a história sempre se repete. Obviamente essa é uma história de ficção que se passa em um mundo onde os participantes dessa história não se lembram de fatos que aconteceram nas gerações anteriores, quiçá a duas gerações, muito diferente de nossa realidade. Os engraçados e tristes macacos dessa história são manipulados de novo e de novo, onde cada um aprendeu a pensar criticamente e fazer suas escolhas de modo pensado e racional. A racionalidade é mesmo uma benção, não é¿

A exposição apresenta imagens de glória de macacos que foram grandes líderes deste mundo, grandes e terríveis figuras. O primeiro deles, Magno Macaco, unificou seu povo e invadiu terras, escravizou povos, matou e pilhou, sob o discurso da grandeza de seu império. Ficou conhecido pela história dos macacos como Imperador Magno Macaco.

O segundo deles foi um macaco sacerdote que servia a uma crença que oprimia os primatas da época, e eles adoravam. Faziam oferendas de alimentos como moeda de troca, por vezes oferecendo a própria vida ao serviço do credo. Este macaco, Sacerdote Virtuoso, ordenou que perseguissem e queimassem os que não obedeciam ao dito credo à risca. E os macacos o adoravam, juntavam-se para assistir as execuções e se regozijavam na ideia de estarem sendo limpos do “mal”. Até hoje, a maioria segue esta mesma doutrina.

O terceiro deles, Soberano Solzinho, foi um rei entre seu povo. Não por que era o mais forte ou mais apto, mas por que nasceu em uma família de governantes. Soberano Solzinho pensava que era sublime por ter sido escolhido pelo “divino”, deus que os fez à sua imagem e semelhança. Esse rei, ao longo de sua vida, faliu os cofres de seu reino, condenando seu povo à miséria que durou gerações. Como consequência, um conflito político deu fim à vida de seu descendente, último de sua linhagem monárquica. Foi enforcado pelos macacos do povo, cansados de viver em tal condição. E você acha que eles aprenderam sua lição¿¿¿

Claro que não! O mundo distópico de macacos que não aprendem com o passado continuou com suas guerras, seus ditadores, seus reinados até que um dia em uma terra fria e devastada pela guerra apareceu um grande macaco. Bigodinho era um macaco esperto que falava o que seus pares queriam ouvir. Muito carismático, Bigodinho convenceu-os de que os culpados do problema eram outro grupo com o qual conviviam, mas com hábitos, culturas e ascendências diferentes. Simultaneamente, outro personagem de nossa história apareceu numa diferente selva. Benitinho era seu nome, e assim como o outro, desejava fazer o mundo ser exatamente como ele achava. Perseguiram os ditos diferentes, mataram e torturaram milhões na busca de “purificar sua terra e seu povo”. Eles foram tão longe que deixaram de ser símios, tornaram-se outra coisa. Algo menos bicho e mais máquina. Máquina opressora, máquina de matar e agora não tinha mais volta. Quando estes líderes caíram, os outros primatas perceberam o absurdo com a qual foram coniventes e se revoltaram contra as atrocidades, jurando nunca mais cometer o mesmo erro. Bigodinho e Benitinho se tornaram párias, odiados e com razão.

Símios se revoltaram contra as condições péssimas na qual viviam e decidiram fazer um governo do povo pelo povo. Tomaram então os meios de produção e por um breve momento na história todos pensaram que este seria o caminho para a evolução, entretanto muitos morreram neste processo. E de novo, como esperado, os macacos elegeram um líder. Primatov também queria fazer um mundo que funcionasse à sua própria visão, para fazer isso acontecer matou e oprimiu milhões no processo, tornando-se mais um ciborgue.

Em resultado disso, noutras partes do mundo macacos mais abastados tomaram governos de terras menos aptas a se defender. Em uma delas surgiu outro protagonista de nossa exposição, o Médico Dumal. Ele separava famílias e torturava quem não concordasse com sua tirania. Muitos sumiram e até hoje não se sabe o que aconteceu com eles. Médico Dumal começou sua jornada, já meio macaco, meio máquina. Dizem que corre na família, ‘uns nascem mais máquina, outros menos’.

Pensaram que os macacos perceberiam que estavam novamente cometendo o mesmo erro¿ Não. Agora todos já eram uma mistura de matéria orgânica e máquina.  Robôs sabem o que são programados para saber. Os Macacobôs cada vez mais se orgulhavam de sua dita civilidade, e seus direitos diziam que todos eram iguais. Um belo dia surgiu o Palhaço, provindo de uma casta rica de macacobôs que já eram mais autômato do que símio, decidindo ingressar na política. Fez sua campanha baseada no ódio aos vizinhos, prometendo fazer um muro que bloqueasse a fronteira, fazendo a terra grandiosa novamente. Os macacos que prometeram não cometer o mesmo erro o elegeram com aplausos e ele se tornou um dos indivíduos mais poderosos do mundo. Palhaço não fez o muro que prometeu, mas separou famílias, traumatizou filhotes, pregando e alastrando seu ponto de vista violento.

Enquanto isso os macacobôs de outras pátrias assistiam horrorizados e pensavam: “Jamais aceitaria tal coisa¡ Somos bons¡ Somos justos¡ Somos civilizados¡”. Em uma dessas terras vizinhas, surgiu o Bonobobo. Assim como Bigodinho e Benitinho, dizia aquilo que os “primatas de bem” queriam falar e não tinham coragem. Segundo ele, quem amasse o igual era maldito, as fêmeas pertenciam a um patamar menor perante machos, os macacos nativos não mereciam suas terras. Não possuía respeito pela natureza e seus recursos. Incitava a violência e o uso de armas. E ainda assim foi aplaudido pelos macacos de bem, os civilizados que queriam “o melhor” para todos os macacobôs, chamado de mito e considerado um salvador.

Os macacobôs continuaram sem aprender com seus erros, se tornando androides, cada vez mais sem a capacidade de entender o outro como parte de si. De anos em anos escolhiam seus líderes, que encabeçavam matanças para proteger interesses econômicos. Por fim, todos haviam se transformado em robôs oprimidos, infelizes, famintos. Eles prometiam não esquecer, mas apenas se lembravam do que era dito para se lembrarem. Não eram mais macacobôs, eram apenas robôs condicionados à uma existência dócil e disciplinada, sustentando as engrenagens de seu próprio inferno. Eventualmente, do alto de sua civilidade, eles se matavam. E se mataram. E se mataram. E se mataram. Se mataram até não sobrar nenhum. Talvez tenha sido para o melhor.



Imperador Magno Macaco


Sacerdote Virtuoso

Soberano Solzinho 

Bigodinho

Benitinho


Primatov
Médico Dumal


Palhaço



Bonobobo






Alunas: Débora Curti, Jordana Amboni, Lívia Bernardo e Maria Helena.




AMAZONAS DO VAGINOLITO

Nossos gifs, desenrolam-se a partir de narrativas que entram em dialogo com os filmes Planeta dos macacos, 2001, BladeRunner e Solaris. Colocando em cheque algumas das estruturas temáticas que os circundavam, como as relações de poder a subversão dos padrões morais da sociedade dominante pelas minorias, além das contradições sobre passado presente e futuram que se borrariam a partir de determinantes direcionados pelo universo dos desejos e ideais.
Mas á medida que observamos os gifs, poderíamos nosquestionar de que forma eles dialogam com os filmes e como suas narrativas visuais se entrecruzam com as que foram propostas por nós? Poderíamos começar a discutir a partir do filme Planeta do macacos, junto ao gif que discute o nosso atual cenário político,representado em uma esfera virtual. Em que ambas as narrativas visam a eliminação de estruturas de poder politicas e sociais  a partir da subversão do sistemas vigentes. Sendo que enquanto lá seria discutido o lugar e a tomada de poder por essa nova espécie,aqui a pauta seria a visibilidade e direito de minorias LGBTQ+.
De modo que seguimos nossas narrativas com o objetivo de colocar em cheque as estruturas politicas de nossa sociedade e como se dão essas relações tensas de poder, exclusão e repressão dos direitos fundamentais de expressão.
Nosso enredo consiste em uma trama, em que os alvos são quatro figuras publicas de diferentes períodos históricos que partilham entre si ações de repressão e violência sobre diversos setores do nosso sistema. Dessa forma a tomada de poder que se dá durante o percurso de nossas narrativas é desencadeada pelo símbolo da mulher que seria o estopim para o começo e o fim de tudo aquilo que é toxico em nossa realidade, independe do momento ou período histórico. 
Durante o decorrer dessas tramas podemos nos questionar sobre exterminar o passado será que de fato mudaria o presente?  E a partir de que tramas se dão essas construções de poder, pensado no caso da morte de Hitler e os genocídios comandados por ele. Será que fato ele foi o único responsável por tudo ou apenas deu vazão para os desejos de uma população fragilizada, que visava reconstruir-se independentemente dos meios que utilizaria.
 Pensado a partir de uma frase de Levinas para pensar Dostoievski no texto de Costa (2011, p.105)“Cada uma de nós é culpado diante de todos por tudo e eu mais que os outros”, ou seja esse recorte nos faz pensar que vivemos em uma construção social que se estrutura por sujeitos e se de fato determinadas ações tomam proporções “Macro”, isso quer dizer tanto aos envolvidos que apoiavam quanto aos que repudiam uma parcela de culpa cabe a todos eles.  
Refletindo sobre construções políticas do passado presente e futuro indo de Hitler, Vladimir Putin, Trump e Bolsonaro, podemos nos questionar como essas figuras públicas de nossa realidade podem se correlacionar com as tramas ficcionais da aqueles filmes e com nossas narrativas visuais?
Podemos dialogar a partir do momento histórico e político que estamos vivenciando agora com essa retomada de regimes fascistas por todo o globo. Em que populações desgastada por um regime opressor do capital   e uma alienação das grandes mídias e interesses bancários.A novamente uma, que estende como por um véu de interesses e os fins nessa realidade distópica e surreal acabam justificando os meio, mesmo que essas ações ao final acabariam se transformando no fim de todos, inclusive aos que começaram essas ações.
Os fins justificam os meios, abre brecha para pensar em Solaris e o ciclo vicioso e continuo em que essa trama desenvolve-se, relacionando facilmente com a tomada de decisões pautada em um universo do desejo individual que cria realidade próprias independente das consequências.
Subvertemos essas realidades para uma virtualização ou seja a criação de um novo um sistema e linha temporal. Propondo assim em nossas narrativas visuais a desconstrução de estruturas normatizam-tes e opressoras.

Referência:

COSTA, Paulo. A ideia de infinito e o lugar da ficção no método fenomenológico em Levinas: Dostoievski. Ethica, Rio de janeiro, v.18, n1, p.99-113, 2011. Disponível em:<https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/35392415/V18N1art6.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1544617673&Signature=900s%2FxCdlVSw%2FIvUiEP9DXgacrM%3D&response-content-disposition=inline%3B%20filename%3DA_Ideia_de_Infinito_e_o_Lugar_da_ficcao.pdf> Acesso em 12 de dez, 2018.



SINOPSE
Em, Amazonas do Vaginolito , série limitada de gifs, um bando de macacas dotadas de inteligência (assim como em Planeta dos Macacos), ganham consciência de classe e super poderes ao tocarem no Vaginolito (como em 2001: Uma odisséia no espaço), e passam a seres caçadoras de políticos opressores (bem como em Blade Runner). Nessa utopia, as Amazonas do Vaginolito, enfrentam o perigo e a adversidade na buscar de deter esses homens que se acham donos do mundo. Usando para esse combate, seus super poderes de formas irreverentes, na busca por livrar as pessoas das opressões e tiranias desses líderes e assim restaurar a ordem no mundo novamente.

A CHEGADA DO VAGINOLITO
No primeiro episódio dessa saga, um bando de macacas vivem mais um dia normal de suas vidas, quando se deparam com a chegada de um monumento inesperado vindo do espaço.




VENERANDO O VAGINOLITO
As macacas seguem seus instintos e ao inspecionarem o monumento espacial, acabam por ganhar incríveis habilidades físicas e psíquicas.




SQUAD FORMATION
Agora, que já desvendaram as facetas do Vaginolito e foral contempladas com sues poderes, o bando de macacas se torna as Amazonas do Vaginolito e vão na busca de cumprir as missões dadas por ela.




RAISE YOUR GLASS
Nesse episódio, a Amazona do Vaginolito P!nk, por meio de um de seus super poderes, viaja no tempo na busca de encontrar o ditador Ritler, e exterminá-los antes que ele mate milhões de pessoas que pertencem a minorias como ela. Para tanto, usará sua arma secreta, escondida em seu capacete.




BORN THIS WAY
Lady Gaga, montando seu urso polar de armadura, viaja voando até a Rússia para encontrar o Presidente Putin. A rainha LGBT+, cerca Putin ao sair da Catedral de São Basílio e usando sua varinha de super poderes, lança um inesperado feitiço contra ele, o qual irá gerar um resultado engraçado.




FUCK YOU
A afrontosa Lily Allen, usando suas habilidades se infiltra na Casa Branca para deter o Presidente Donald Trump. A Amazona então o intercepta e usa seu super poder secreto, dando fim a ele e a todas a suas merdas de uma forma bem debochada e americana.




RUN THE WORLD (GIRLS)
Beyoncé, líder das mulheres, faz uma viagem inesperada ao Brasil, na busca pelo presidente eleito. Em um encontro sorrateiro, a Amazona usando seu super poder de força, atira o próprio Vaginolito conta o coiso. Será que ele sobreviverá? Será que o presidente eleito conseguirá encontrar o clitóris?



domingo, 9 de dezembro de 2018

Das maiorias ao indivíduo


Aléxia Amanda Doro
Beatriz Marques Nolli
Betriz Naomi Ichiba
Fernanda Ayumi Sakuma 
Jacqueline Amadio de Abreu
Marcio Soares Pili
Matheus Gonçalves Gorni
Matheus Fiaux



Blade Runner 1982
O “cult movie” da ficção cientifica Blade Runne trouxe uma chocante visão do futuro, o filme se passa por volta dos anos 2000 e o planeta terra está em total decadência , a engenharia genética se tornou uma das maiores indústria de replicantes ( robôs com uma inteligência e força extraordinária), que são tão parecidos com os humanos que e praticamente indistinguível, como vimos no filme uma cena o qual o protagonista Rick Deckard( interpretado por Harrison Ford) matou uma replicante e ela sangrava como um ser humano sangraria, como também animais replicados sendo vendidos como a cobra que uma artista tem e a cobra não tem veneno.
Nos filmes de Blade Runner e trabalhado bastante sobre a questão da memória, dos nossos medos e fantasias como também a perda de identidade e desumanização, só que de formas e focos diferentes com por exemplo nos filmes são apresentados os replicantes (perfeitos humanoides) que não tem passado ou memória, sendo essa a única diferença entre eles e os humanos.
No Blade Runner de 1982 se e trabalhado como se o mundo estivesse em uma amnésia coletiva, termo trabalhado pela escritora Myrian Sepúlveda dos Santos (1989) em seu texto “O Pesadelo Da Amnésia Coletiva: um estudo sobre os conceitos de memória, tradição e traços do passado” e aborda que “O mundo da amnésia coletiva é o mundo onde a competitividade, racionalidade e informação substituem sentimentos, praticas coletivas e vínculos interpessoais presentes em antigas comunidades” que no caso do filme foram criados replicantes, robôs criados para guerra, sem memória do passado pois acreditavam que se o “Homens e mulheres, [..] desprovidos de conhecimento e experiência do passado, se tornam incapazes de sentir, julgar e defender seus direitos.”, no caso como os replicantes não tinha memoria do passado e estavam em um ambiente caótico de guerra achavam que eles não conseguiriam desenvolver nenhum tipo de sentimento e se rebelar, mas o que aconteceu foi que mesmo em um ambiente caótico os replicantes conseguiram desenvolver sentimentos como amor e um sentimento de família e que com esses sentimentos eles se rebelaram e no filme eles buscam a liberdade e tem a vontade de viver e por isso que quando os criadores deram conta disso surgiram caçadores de androides, que recebiam dinheiro caso conseguissem identificar esses replicantes e matarem.
  




Blade Runner 2049
Nos filmes de Blade Runner, vimos que a memória é o principal fator que diferencia um replicante de um humano. A memória, antes da mídia, era constituída de uma memória coletiva, normalmente construída pela convivência, família e religião. Dessa forma, cada grupo de indivíduos tinham sua própria memória, o que foi muito importante para manter uma memória de grupos marginalizados.
Posteriormente, com o início da mídia de massa, mais especificamente com a criação do cinema, a memória não é mais limitada a partir da família ou religião, o cinema atinge o espectador com tal impacto, que acaba por imprimir outras memórias em um indivíduo, ou seja, uma memória que não é sua começa a te afetar.
Para Alison Landsberg, essa memória se denomina memória protética, conceito esse que ela constrói em seu livro Prosthetic memory: the transformation of American remembrance in the age of the mass culture. De acordo com Landsberg, a memória protética é construída exteriormente ao indivíduo e esse individuo pela para si essa memória e se constitui enquanto sujeito considerando aquela memória como dele, e isso acaba por produzir empatia, como é o caso de nós, brasileiros nascidos no fim do século XX e início do século XXI, nos sentimos incomodados com assuntos como holocausto, escravidão ou até mesmo a ditadura, mesmo que não tenhamos participado efetivamente desses momentos, mas adquirimos esses sentimentos de raiva pelas pessoas que fizeram isso, e empatia para com as vítimas desses acontecimentos, através dos filmes assistidos e histórias contadas. 
E essa ideia de memória protética de Landsberg se relaciona com o filme Blade Runner, tanto o de 1982 quanto o de 2017, por trabalharem, como dito anteriormente, com a ideia de que a memória diferencia os humanos dos replicantes. Mas durante ambos os filmes, percebemos que mesmo a memória do replicante não sendo originaria dele, ela o constitui enquanto indivíduo e define quem ele é. Ou seja, mesmo que essa memória não tenha pertencido ao passado do replicante, ela forma o que ele é durante o presente. 
No filme de 2017, Blade Runner 2049, diferente do filme de 1982, os replicantes sabem que são robos, e sabem que suas memórias são falsas. Um dos pontos mais importantes para discutir memória nesse filme, é na cena que o K, ao tentar descobrir se ele é o bebe replicante, vai atrás de uma memory maker (personagem que tem a função de criar as memórias para os replicantes) para saber se sua memória de infância é real ou criada. Inicialmente, a personagem memory maker já é importante para relacionarmos o filme ao conceito de memória protética, pois marca que as memórias dos replicantes são externas a eles, ou seja, são criados por outros, e o fato de ela falar que é terceirizada da empresa Wallace, marca ainda mais um caráter de alteridade da memória, ou seja, essa memória protética sempre vem de um indivíduo terceiro, que em nada se relaciona com o “recebedor” da memória. Além disso, nessa mesma cena, após a Doutora analisar a memória de K e confiar que ela é uma memória real, o personagem tem um primeiro momento de reação emotiva durante o filme, pois ao perceber que aquela memória foi realmente vivenciada, aquelas memórias o afetam, e ao perceber como aquela memória o toca em um nível pessoal, e ao saber que aquela memória é real ele acredita que é o bebe replicante.  
Posteriormente ele descobre que o bebe replicante é na verdade uma menina e sendo essa a própria memory maker. E então K percebe que na verdade, aquela memória que o toca, e traz para ele sentimentos, na verdade não é dele, ela é externa, e que essa memória também é inserida em vários outros replicantes pertencentes a um grupo de revolucionários. E é essa memória, sofrida e dolorosa, que aconteceu inicialmente com a Doutora, mas que foi adquirida pelos outros replicantes que une os replicantes revolucionários, e para além da empatia que os unem, essa memória protética também traz consigo um potencial político, que acaba por unir os replicantes em busca de uma liberdade. Ou seja, essa memória protética que os replicantes adquirem para si, e que os constituem como indivíduos, possibilita também que eles se constituam enquanto comunidade e se unifiquem.





Solaris (1972)
O título do filme é o nome de um planeta descoberto e explorado pelos russos. Segundo relatos de astronautas que lá estiveram, o oceano de Solaris é na verdade um enorme organismo que cobre grande parte de sua superfície, e funciona como um cérebro, capaz de comunicar-se com seres humanos gerando materializações baseadas em memórias retiradas de suas mentes. Neste sentido Solaris é como o abismo da famosa frase de Nietzche, que quanto mais é encarado, mais profundamente olha o interior de quem o encara.
Apesar do alarde gerado por este primeiro contato, a grande maioria dos responsáveis pelo empreendimento científico vê os relatos de quem esteve lá com desconfiança, desencorajando novas viagens exploratórias. Décadas se passam, e os russos perdem o interesse de continuar suas pesquisas no planeta, limitando-as a uma estação orbital composta de uma equipe de apenas três cientistas.
A história do filme começa do ponto em que um dos cientistas da estação morre sob circunstâncias misteriosas, levando o programa espacial russo a escalar o psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis) para substituí-lo.
Tarkovsky não tem pressa para chegar ao ponto onde Kris finalmente entra na estação que servirá de cenário para a maior parte da história. O primeiro ato, que ocupa quase um terço da duração do filme, se passa na Terra. Nele vemos o protagonista andando serenamente pelas cercanias da casa de campo de seu pai. A câmera do diretor examina com cuidado as plantas, árvores, um riacho, servindo ao propósito de subjetivar o último contato do protagonista com uma paisagem terrestre antes de sua viagem espacial.
Mais tarde temos nosso primeiro acesso a informações sobre Solaris através de relatos gravados décadas atrás (a data não é especificada) nos quais Henri Brenton (Vladislav Dvorzhetsky) descreve os estranhos fenômenos que presenciou enquanto sobrevoava a superfície do planeta em busca de cientistas desaparecidos em uma missão exploratória. É neste ponto que Tarkovsky apresenta o primeiro indício do exercício estilístico que realizará em toda a película. A fotografia muda para uma monocromia azulada, buscando diferenciar o passado do presente. Até aí nada que desperte muita atenção. Porém, conforme a trama se desenrola, notamos uma variação fotográfica que passa a pontuá-la até sua conclusão, e releva-se como a principal chave fornecida por Tarkovsky para desvendarmos a história e seus personagens.
Um detalhe que pode gerar estranheza, e até ser visto como deficiência do roteiro e das interpretações, é a maneira fria e superficial com que os dois cientistas remanescentes interagem com Kris. Pouco descobrimos sobre eles, apenas que o Dr. Sartorius (Anatoli Solonitsyn) é mais arisco e obcecado por seu trabalho, sempre trancado em seu laboratório realizando experimentos, enquanto o Dr. Snaut (Jüri Järvet) é o mais passivo diante da situação em que se encontram, aceitando-a e usando-a como meio de refletir a respeito do significado daqueles fenômenos não somente para eles, mas para toda a humanidade que os três ali representam. 
Kris naturalmente é o personagem explorado com mais profundidade pela trama. É através dele que descobrimos mais a respeito de Solaris. A partir de seu contato com Sarotius e Snaut concluímos que a carência física e emocional daqueles homens está diretamente relacionada às materializações que vem “assombrando” a estação, algo que se confirma mais tarde quando Kris entra em contato com uma manifestação intimamente ligada a ele.
O suspense que conduz à primeira aparição de Hari (Natalya Bondarchuk) é bem construído por Tarkovsky. Primeiro vemos Kris assistindo os últimos “vídeo-diários” gravados pelo Dr. Gibarian (Sos Sargsyan), pouco antes de seu falecimento. Em seguida a fotografia fica monocromática, comentando a impressão que o vídeo causou em Kris. Depois torna-se preta e branca, ganhando ainda mais contraste e expressividade assim que ele adormece, dando um aspecto lúgubre ao quarto, para, na cena seguinte, sermos surpreendidos pelos tons quentes e aconchegantes que invadem o ambiente assim que temos o primeiro vislumbre de Hari. É importante também notar que as cores presentes tanto nesta quanto na segunda manifestação/ressurreição de Hari remetem diretamente à cor do oceano de Solaris.
A capacidade regenerativa que Hari apresenta mais adiante é outro detalhe que não pode ser ignorado. Sendo ela a materialização de uma memória persistente de Kris, seu “poder” provém da vontade inabalável do protagonista em preservá-la, daí o fato de ela sobreviver a ferimentos físicos que não alcançam a profundidade psicológica necessária para afetá-la de maneira irreversível. E, o mais importante, é através dela que a ligação entre Solaris e o psicólogo se fortalece.
Esse fortalecimento dos laços afetivos entre Kris e Hari é bem trabalhado pela trama. No início o psicólogo trata Hari friamente, sabendo de sua verdadeira natureza, e temendo envolver-se com algo/alguém que não é o que parece ser. Porém, após a segunda vinda de Hari, Kris muda de atitude, inicialmente movido pela culpa, até admitir sua própria carência afetiva. Assim, ele se deixa envolver cada vez mais por sua lembrança manifesta. 
O homem como um ser que necessita do outro para manter-se são e consciente de sua própria individualidade é uma ideia recorrente na psicologia, e um conceito importante abordado pelo filme através da interação de Kris com Hari/Solaris, que chegam ao ponto de desenvolverem uma espécie de conexão telepática. Daí a cena próxima ao fim, na qual Kris é conduzido por múltiplas e simultâneas manifestações de Hari para dentro de uma memória sua (indicada pela fotografia em preto e branco) onde reencontra sua falecida mãe (o primeiro “outro” com que o ser em desenvolvimento tem contato após nascer). É a partir deste reencontro onírico que Solaris passa a ter pleno acesso às memórias de Kris, essencial para a compreensão da atordoante conclusão do longa.
Snaut fala sobre o surgimento, muito sugestivo, de ilhas no oceano de Solaris, que acabam por confirmar as impressões do cientista sobre as aspirações humanas.
Um dos elementos mais amplos no filme é discutir o que é real e o que não é, como o caso de Kelvin que vê sua esposa, que morreu há 10 anos, porém, não é a sua esposa, e sim uma ‘representação’ dela, fenômeno que é causado por um oceano, que começou a sondar a mente da tripulação, e a materializar, como vivas, as memórias mais profundas destas. Já ouviu falar que muitas vezes nossas memorias podem ser criadas? E muitas vezes, por acreditarmos que algo realmente aconteceu, se torna concreto para nós?
O filme foca no inconsciente do indivíduo, foca em pensar se o que nos rodeia e enxergamos é real, como lidar com o que não enxergamos, e mesmo não enxergando conseguimos sentir e mergulhar em nós mesmos... Por mais que Solaris se trate de um filme ‘futurístico’, ele não se centra em naves espaciais, descrições, robôs, etc.… ele se foca mais na humanidade dos astronautas e seu próprio inconsciente.

“Não queremos conquistar o espaço. Queremos expandir a Terra infinitamente. Não queremos novos mundos; queremos um espelho. Buscamos um contato que jamais alcançaremos. Estamos na tola posição de um homem lutando por um objetivo que teme e não deseja. O homem precisa do homem!” - Dr. Snaut




Solaris (2002)
 “I love you so much, Chris. Don´t you love me anymore?”*. Esta frase proferida logo no começo do filme carrega uma voz feminina e ecoa na cabeça de Chris Kelvin, protagonista do filme, enquanto ele está sentado em sua cama. Trata-se da voz de Rheya, o amor de sua vida que se suicidou deixando-o perturbado e com um sentimento de perda extremamente doloroso.
Chris lembra-se constantemente de sua amada. Ao acompanharmos seu dia no começo do filme percebemos o quanto o personagem é atormentado pelas lembranças de Rheya, mesmo quando está cercado por pessoas no trem. Trata-se de um local repleto de estímulos visuais, táteis, sonoros, mas Chris permanece imerso em pensamentos, alheio a tudo e todos, pois foi ali que viu sua amada pela primeira vez.
Podemos observar que esse comportamento acontece, de acordo com Eliza Bachega Casadei (2012, p.51), “justamente em torno da noção de uma memória que se apresenta como uma ação repetida que está articulada a noção freudiana de memória”. Para Freud “as percepções são depositadas na memória sob a forma de traços que, armazenados em forma de duplicata a partir de princípios diversos, formam uma extensa rede de memórias ligadas em série” (CASADEI, 2012, p. 51).
Ao parafrasear Freud (1998), Casadei (2012) explica que o inconsciente freudiano é formado por memórias retidas que podem ou não se manifestar, mas estão ali. Dessa forma, o recordar traduz-se como repetição. O que esquecemos ou reprimimos é expresso em ações, em repetições sem, necessariamente, sabermos o que estamos repetindo.

                                     Por exemplo, o paciente não diz que recorda que costumava ser desafiador e crítico em relação à autoridade dos pais; em vez disso, comporta-se dessa maneira para com o médico. Não se recorda de como chegou a um impotente e desesperado impasse em suas pesquisas sexuais infantis; mas produz uma massa de sonhos e associações confusas, queixa-se de que não consegue ter sucesso em nada e assevera estar fadado a nunca levar a cabo o que empreende. Não se recorda de ter-se envergonhado intensamente de certas atividades sexuais e de ter tido medo de elas serem descobertas; mas demonstra achar-se envergonhado do tratamento que agora empreendeu e tenta escondê-lo de todos. E assim por diante (FREUD, 1998, p. 93).

As ações de Chris mostram essa repetição. Após desembarcar na estação especial que orbita o plante Solaris para investigar estranhos acontecimentos, Chris se depara com Rheya a sua frente.

                                     Após encontrar a cópia de Rheya, Chris pergunta para o outro tripulante da nave, Snow, “what was that?”* e este lhe responde “Do you want her to come back?”*. É a resposta a essa pergunta que posiciona a função da memória do filme, mostrando-a enquanto um passado que não só se manifesta no presente, mas que se repete e, ao se repetir, forma novas ligações com o atual construindo uma rede. McFarland (2011) chama a atenção para este fato quando coloca que “a pergunta de Snow implica que Solaris pode oferecer apenas uma repetição sem fim” da imagem de Rheya (CASADEI, 2012, p. 52).

A resposta de Snow nos instiga a pensar que o sofrimento de Chris é, também, o que Freud entende como gozo. “O sintoma é o lugar paradoxal onde o sujeito, sem que ele o saiba, tem a sua satisfação sexual e, também, o seu sofrimento” enquanto “uma satisfação substituta de uma série de fantasias e de recordações de experiências traumáticas” (Apud. DIAS, 2006: 401).
Essa repetição intimamente ligada ao gozo pode ser observada diversas vezes. Chris é assombrado pela lembrança suicida de Rheya que, na estação espacial, é repetida quando a personagem ingere oxigênio liquido e morre. No entanto, a personagem ressuscita logo depois e Chris começa a vigia-la para que não cometa suicídio novamente.
A constante recusa em deixar a personagem partir e o tormento que o corrói por considerar que “lembra-se errado”, seja, exatamente por lembrar-se de Rheya como suicida, são sofrimentos constantemente vividos pelo personagem que se repetem e repetem. Trata-se de um “lugar que representa ao mesmo tempo o prazer e o sofrimento enquanto ação repetitiva” (CASADEI, 2012, p. 53). Este lugar é simbolizado por Rheya como afirma a autora.







* “Eu te amo muito, Chris. Você não me ama mais?”
* “O que foi aquilo?”
* “Você quer que ela volte?”

domingo, 2 de dezembro de 2018

Roteiro de criação. Sem título


TRILOGIA GUERRILA - OS FILMES.


Em meio a vastidão dos universos cilíndricos, dentro de um deles, encontramos um planeta. Menor que um átomo, inserido naquilo que seus habitantes chamam de galáxia, rodeando em volta de um ponto de luz junto com mais sete massas esféricas, como insetos no escuro. Ali, naquele ponto quase insignificante pesando sob o tecido do espaço, encontramos vida.
Foi registrado o primeiro sinal dela por volta de 3 bilhões de anos atrás, usando suas unidades de medida. Nada pode medir o tempo melhor do que a necessidade de seu alongamento. Unidades falhas, como o dia, o ano, não medem as intensidades, nem mesmo as ociosidades, apenas correm os números como retas em direção ao infinito. O tempo é orgânico, não é reto. E o tempo que lhes sobra de vida nesse ponto esférico, está se comprimindo.
Nesse lugar, que chamam de Terra, por não perceberem a maleabilidade, flexibilidade e piedade do tempo, continuam caminhando em linha reta para a escuridão, isso antes mesmo da luz de seu centro de órbita se esgotar. Pobre humanidade. Seres em potencialidade deixando-se exaurir antes mesmo do que lhe aguarda.
Por sorte, O Tempo lhes trará piedade. 


GUERRILA: A história que Eles não contaram.

          A Terra está cinza. Todos os habitantes que aqui ainda se encontram, não respiram com seus próprios pulmões. A poluição tomou conta de cada centímetro do planeta, e, junto com ela, a miséria. Não há comida que nasça dessa terra desgraçada. Não há água que se beba desses rios de água preta. Não há gente que se viva. Só há quem trabalha.
       Quem não trabalha por aqui, ou morre ou tem dinheiro, e quem está na segunda opção, não está nem por aqui. Mandam suas cópias malfeitas, pois assim paga-se mais barato, inclusive para o empregado. Ou deveria dizer escravo? Nem isso, pois para ser escravo, antes é preciso ser.
         “Senhor, tenha piedade de nós”.
         Algo está por vir. Quem saberá? Senhor de todos os seres vivos, ouviste minhas preces?





GUERRILA: A retaliação

       Algumas décadas atrás, diziam que o planeta jamais suportaria outra guerra, e, por isso, seria melhor apaziguar os povos por meio do diálogo. A história que Eles não contaram é que essa seria a pior maneira de destruir a Terra. O Tempo ouviu as preces do povo que o clamava. Seres programados para cumprir sua missão nesse lugar de dados armazenados em nuvem. O que é mais difícil de destruir: pilhas de concreto para todos os lados, soldados armados, bombas atômicas e tanques de guerra, ou códigos invisíveis, sem lugar no espaço e talvez nem no plano que nos encontramos?
         A guerra teve seu início, e apenas quebrar as telas dos computadores não será o suficiente para vencê-la.






GUERRILA: A Metagaláxia nos descobriu

        “Senhor, por que me abandonaste? ”
         A devastação agora parece mais poética do que a civilização de antes. Existe algo de belo no caos. A fome de agora não mata tanto, e a sede parece não desidratar. Nenhum alimento no mundo seria capaz de suprir as necessidades corpóreas sem antes destruir as amarras que os prendiam. A humanidade está saciada.
       Mas, mesmo matando a fome que assolava a alma, o corpo não se alimenta de satisfação. “Nos ajudou para nos deixar perecer em meio as cinzas? ”
        Nada dará àquele que acredita que a vida é masculina. O berço da vida é fêmea.
            A Vida. A Temporalidade. A Metagaláxia. A Trindade.





OBSERVAÇÃO: Não temos nenhuma intenção de tornar a trilogia Guerrila real, apenas a elaboramos para fins acadêmicos.

Por Ana Julia Campos, Bárbara Boer, Isabella Dinardi e Julia Onoue.