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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Os Ilustres Macacobôs: Uma etnografia do poder ao longo da história


Essa exposição foi pensada como um diálogo com nosso primeiro trabalho realizado na matéria de Arte e Ciências I, representando uma mostra de grandes figuras históricas provindas duma terrível distopia formulada por nós. Uma distopia que possui seus ciclos repetitivos de violência em movimentos análogos e sem fim. No mundo dos macacos a história sempre se repete. Obviamente essa é uma história de ficção que se passa em um mundo onde os participantes dessa história não se lembram de fatos que aconteceram nas gerações anteriores, quiçá a duas gerações, muito diferente de nossa realidade. Os engraçados e tristes macacos dessa história são manipulados de novo e de novo, onde cada um aprendeu a pensar criticamente e fazer suas escolhas de modo pensado e racional. A racionalidade é mesmo uma benção, não é¿

A exposição apresenta imagens de glória de macacos que foram grandes líderes deste mundo, grandes e terríveis figuras. O primeiro deles, Magno Macaco, unificou seu povo e invadiu terras, escravizou povos, matou e pilhou, sob o discurso da grandeza de seu império. Ficou conhecido pela história dos macacos como Imperador Magno Macaco.

O segundo deles foi um macaco sacerdote que servia a uma crença que oprimia os primatas da época, e eles adoravam. Faziam oferendas de alimentos como moeda de troca, por vezes oferecendo a própria vida ao serviço do credo. Este macaco, Sacerdote Virtuoso, ordenou que perseguissem e queimassem os que não obedeciam ao dito credo à risca. E os macacos o adoravam, juntavam-se para assistir as execuções e se regozijavam na ideia de estarem sendo limpos do “mal”. Até hoje, a maioria segue esta mesma doutrina.

O terceiro deles, Soberano Solzinho, foi um rei entre seu povo. Não por que era o mais forte ou mais apto, mas por que nasceu em uma família de governantes. Soberano Solzinho pensava que era sublime por ter sido escolhido pelo “divino”, deus que os fez à sua imagem e semelhança. Esse rei, ao longo de sua vida, faliu os cofres de seu reino, condenando seu povo à miséria que durou gerações. Como consequência, um conflito político deu fim à vida de seu descendente, último de sua linhagem monárquica. Foi enforcado pelos macacos do povo, cansados de viver em tal condição. E você acha que eles aprenderam sua lição¿¿¿

Claro que não! O mundo distópico de macacos que não aprendem com o passado continuou com suas guerras, seus ditadores, seus reinados até que um dia em uma terra fria e devastada pela guerra apareceu um grande macaco. Bigodinho era um macaco esperto que falava o que seus pares queriam ouvir. Muito carismático, Bigodinho convenceu-os de que os culpados do problema eram outro grupo com o qual conviviam, mas com hábitos, culturas e ascendências diferentes. Simultaneamente, outro personagem de nossa história apareceu numa diferente selva. Benitinho era seu nome, e assim como o outro, desejava fazer o mundo ser exatamente como ele achava. Perseguiram os ditos diferentes, mataram e torturaram milhões na busca de “purificar sua terra e seu povo”. Eles foram tão longe que deixaram de ser símios, tornaram-se outra coisa. Algo menos bicho e mais máquina. Máquina opressora, máquina de matar e agora não tinha mais volta. Quando estes líderes caíram, os outros primatas perceberam o absurdo com a qual foram coniventes e se revoltaram contra as atrocidades, jurando nunca mais cometer o mesmo erro. Bigodinho e Benitinho se tornaram párias, odiados e com razão.

Símios se revoltaram contra as condições péssimas na qual viviam e decidiram fazer um governo do povo pelo povo. Tomaram então os meios de produção e por um breve momento na história todos pensaram que este seria o caminho para a evolução, entretanto muitos morreram neste processo. E de novo, como esperado, os macacos elegeram um líder. Primatov também queria fazer um mundo que funcionasse à sua própria visão, para fazer isso acontecer matou e oprimiu milhões no processo, tornando-se mais um ciborgue.

Em resultado disso, noutras partes do mundo macacos mais abastados tomaram governos de terras menos aptas a se defender. Em uma delas surgiu outro protagonista de nossa exposição, o Médico Dumal. Ele separava famílias e torturava quem não concordasse com sua tirania. Muitos sumiram e até hoje não se sabe o que aconteceu com eles. Médico Dumal começou sua jornada, já meio macaco, meio máquina. Dizem que corre na família, ‘uns nascem mais máquina, outros menos’.

Pensaram que os macacos perceberiam que estavam novamente cometendo o mesmo erro¿ Não. Agora todos já eram uma mistura de matéria orgânica e máquina.  Robôs sabem o que são programados para saber. Os Macacobôs cada vez mais se orgulhavam de sua dita civilidade, e seus direitos diziam que todos eram iguais. Um belo dia surgiu o Palhaço, provindo de uma casta rica de macacobôs que já eram mais autômato do que símio, decidindo ingressar na política. Fez sua campanha baseada no ódio aos vizinhos, prometendo fazer um muro que bloqueasse a fronteira, fazendo a terra grandiosa novamente. Os macacos que prometeram não cometer o mesmo erro o elegeram com aplausos e ele se tornou um dos indivíduos mais poderosos do mundo. Palhaço não fez o muro que prometeu, mas separou famílias, traumatizou filhotes, pregando e alastrando seu ponto de vista violento.

Enquanto isso os macacobôs de outras pátrias assistiam horrorizados e pensavam: “Jamais aceitaria tal coisa¡ Somos bons¡ Somos justos¡ Somos civilizados¡”. Em uma dessas terras vizinhas, surgiu o Bonobobo. Assim como Bigodinho e Benitinho, dizia aquilo que os “primatas de bem” queriam falar e não tinham coragem. Segundo ele, quem amasse o igual era maldito, as fêmeas pertenciam a um patamar menor perante machos, os macacos nativos não mereciam suas terras. Não possuía respeito pela natureza e seus recursos. Incitava a violência e o uso de armas. E ainda assim foi aplaudido pelos macacos de bem, os civilizados que queriam “o melhor” para todos os macacobôs, chamado de mito e considerado um salvador.

Os macacobôs continuaram sem aprender com seus erros, se tornando androides, cada vez mais sem a capacidade de entender o outro como parte de si. De anos em anos escolhiam seus líderes, que encabeçavam matanças para proteger interesses econômicos. Por fim, todos haviam se transformado em robôs oprimidos, infelizes, famintos. Eles prometiam não esquecer, mas apenas se lembravam do que era dito para se lembrarem. Não eram mais macacobôs, eram apenas robôs condicionados à uma existência dócil e disciplinada, sustentando as engrenagens de seu próprio inferno. Eventualmente, do alto de sua civilidade, eles se matavam. E se mataram. E se mataram. E se mataram. Se mataram até não sobrar nenhum. Talvez tenha sido para o melhor.



Imperador Magno Macaco


Sacerdote Virtuoso

Soberano Solzinho 

Bigodinho

Benitinho


Primatov
Médico Dumal


Palhaço



Bonobobo






Alunas: Débora Curti, Jordana Amboni, Lívia Bernardo e Maria Helena.



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